Durante seis dias, a Guarda foi palco das comemorações anuais do “Dia do Exército”, momento de prestígio para a cidade, de afirmação do seu potencial e também de alguma nostalgia em relação a um passado militar que, até ao início dos anos 80 do século passado, convivia diariamente com seus habitantes.
Desde sempre existiu uma forte ligação militar à Guarda ou não estivesse a sua fundação intimamente ligada à função de defesa numa perspectiva bélica. Nos séculos mais recentes, o quartel da Guarda, de onde sobressai o Regimento de Infantaria nº 12, esteve sempre presente no quotidiano urbano, sendo um dos motores económicos da cidade e tendo os seus militares tido inclusivamente um papel fundamental na estratégia operacional do 25 de Abril de 1974, ao controlarem a principal fronteira portuguesa.
O actual senhor ministro da Defesa, num dos discursos alusivos à efeméride, terá aflorado a ideia de que o encerramento do quartel da Guarda teria sido um erro, elogiando e reconhecendo o potencial estratégico da sua localização, donde, poderemos inferir (sem estarmos a ser abusivos na interpretação) que, num futuro mais ou menos longínquo, a reabertura de uma unidade militar na cidade poderá, eventualmente, ser uma possibilidade. Paralelamente, o deputado Nuno Simões de Melo, com um distinto passado ligado ao Exército, terá também sugerido a instalação de uma academia militar neste território. Fica então bem patente o reconhecimento do papel que as estruturas militares podem ter na dinâmica territorial ao mesmo tempo que sinalizam a mais-valia do posicionamento geográfico da nossa cidade.
Contudo, na minha opinião, mais importante do que a edificação dessas estruturas, dever-se-ia privilegiar o conhecimento e investigação centrados na indústria de defesa, constituindo-se o IPG como um pólo aglutinador e dinamizador nessa área. Desde já porque, em meados dos anos 2000, esta instituição, pela mão do senhor professor Luis Tenedório, foi pioneira no desenvolvimento do projecto do primeiro míssil português, que infelizmente, por falta de apoios do Estado, não viu a sua concretização. Por outro lado, com imensa preocupação, todos sabemos que a actual conjuntura mundial não é das mais seguras pelo que o potencial de crescimento do sector da defesa e de todo o complexo industrial associado é bastante grande. Existe todo um universo não bélico por explorar, como, por exemplo, os sistemas de guerra electrónica, telemetria, inteligência artificial, comunicações seguras, blindagens regenerativas, etc., que obriga a investigação e desenvolvimento constantes e que pela sua exclusividade e inovação tecnológicas, têm retornos económicos muito elevados para as entidades que os promovem e para os territórios onde estão sedeadas.
O próprio Chefe do Estado-Maior do Exército, Eduardo Mendes Ferrão, ainda no passado domingo, nesta cidade, defendeu a aproximação da academia à indústria militar, reconhecendo que na Guarda há empresas que fabricam componentes de qualidade mundial e que poderiam perfeitamente trabalhar em projectos de defesa.
Esta é uma oportunidade que a Guarda e as suas instituições devem aprofundar e não desperdiçar, até porque o desenvolvimento e transferência tecnológica abrem também novas possibilidades para outros sectores de actividade, lembrando que a internet, que, para nós, é tão comum como o ar que respiramos, é uma evolução da ARPANET, criada no final dos anos 60 do século XX para transmissão de dados militares sigilosos.
Fica a sugestão!
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos