“A Portuguesa” ou a “Ode à Alegria”?

Entre 1834 e 1910, o hino tocado e cantado em ocasiões solenes chamava-se “Hymno da Carta”, curiosamente composto pelo rei D. Pedro IV. A letra focava-se na figura do próprio rei, na religião e na nova constituição que passou a vigorar após a guerra civil entre Miguelistas e Liberais, também conhecida como a “Guerra dos Dois Irmãos”.
Com a mudança dos tempos e das vontades, surgiu, compreensivelmente, a necessidade de um novo hino, que refletisse o novo regime republicano iniciado em 1910. Assim, foi adotada em 1911 uma composição musical de Alfredo Keil, com letra de Henrique Lopes Mendonça, de 1890, que já era utilizada em círculos antimonárquicos. O canto passou a ser chamado “A Portuguesa”.
Esta composição é dividida em três partes, sendo que a segunda e a terceira são praticamente desconhecidas do grande público, pois apenas a primeira parte é tocada e cantada em eventos oficiais. Suspeito, no entanto, que muitos cidadãos mais jovens, talvez até em grande número, nem mesmo saibam a letra da primeira parte. Mas isso é outra questão.
“A Portuguesa” mantém-se “em funções” há 123 anos, resistindo a diversos momentos históricos importantes, como o golpe militar de 1926, a criação do Estado Novo em 1933, a Revolução de 1974 e a adesão de Portugal à União Europeia em 1986 – eventos que, em teoria, poderiam justificar uma possível mudança. Contudo, o hino permaneceu imune a essas transformações, sendo sempre mantido sem alterações significativas.
Com o objetivo de utilizar a música como uma linguagem universal que exaltasse os ideais europeus de paz, liberdade e solidariedade, ao mesmo tempo em que evocava o ideal de fraternidade, foi adotado, em 1985, como o hino oficial da União Europeia, a “Ode à Alegria”, um poema escrito por Friedrich Schiller em 1785 e música composta por Ludwig van Beethoven em 1823, como parte da sua 9ª Sinfonia.
Talvez alguns leitores considerem uma heresia ou blasfémia o facto de utilizar a conjunção “ou” no título deste texto, que poderá inferir ou sugerir uma possível substituição entre “A Portuguesa” e o Hino da Europa. No entanto, é importante esclarecer que a “Ode à Alegria” não visa substituir os hinos nacionais dos países da União Europeia, mas sim celebrar os valores comuns que esses países compartilham. O hino europeu é tocado em cerimónias oficiais envolvendo a União Europeia e, de maneira geral, em eventos de caráter europeu.
Dessa forma, talvez a melhor solução seria utilizar a conjunção “E” entre os dois hinos, como forma de simbolizar que todos os cidadãos portugueses devem conhecer tanto “A Portuguesa” quanto o Hino da Europa. Isso representaria uma união não apenas com Portugal, mas também com os valores de fraternidade e solidariedade da União Europeia.
Qual a sua opinião? Acha que as letras dos hinos se coadunam com os tempos atuais? Estaria na altura de mudar o hino nacional ou adaptá-lo? Ou talvez mantê-lo sem alterações, como está?
Além disso, em eventos de inauguração de obras públicas financiadas em grande parte por fundos da União Europeia, talvez fosse uma boa prática tocar também o Hino da Europa, além de “A Portuguesa”. Ser-lhe-ia aceitável?
Bem Haja.

Sobre o autor

Filipe Conceição Silva

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