A política paroquial das tascas e dos arraiais

Escrito por Acácio Pereira

“Como se isto não bastasse, percebemos agora que um “lapso” da Câmara da Guarda obrigou os munícipes a pagarem mais IMI, uma vez que a proposta para reduzir imposto foi aprovada, mas a lista de beneficiários não foi entregue dentro do prazo pela autarquia à Autoridade Tributária.”

A Guarda está a provincianizar-se, em parte pelo discurso populista do seu presidente da Câmara, Sérgio Costa, em parte pela incapacidade de a autarquia liderar políticas que atraiam, promovam e fixem no concelho atividades diferenciadoras que reforcem o trabalho e o potencial das classes médias mais dinâmicas da cidade.
As pequenas e médias empresas puxam para um lado – o mesmo lado para que puxam o Politécnico da Guarda e os produtores culturais, por exemplo – e Sérgio Costa puxa para o outro. A sociedade guardense tem uma apetência cada vez maior para o cosmopolitismo, para a atualidade, para a inclusão, para os consumos culturais – e a Câmara Municipal puxa-a para baixo, para o arraial, para o chinelo.
Já não bastava o Teatro Municipal da Guarda ter perdido 800 mil euros da DGArtes por decisão do presidente da Câmara, insatisfeito com a «excessiva» (?) qualidade da programação – Sérgio Costa declarou que ia recusar o dinheiro do Estado para o município ficar dispensado de investir a sua parte. Já não bastava a Guarda debater-se com uma enorme falta de habitação a preços acessíveis (que o diga o Politécnico, que todos os anos perde alunos que concorrem para o IPG mas não conseguem alojamento condigno), há tempos ficamos a saber por este jornal, O INTERIOR, que a Guarda é o concelho da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela com o segundo financiamento mais baixo do programa de apoio a projetos de habitação a custos acessíveis: são apenas 485.300 euros para a reabilitação de 11 imóveis no concelho, o que contrasta com os 30,5 milhões candidatados pelo Fundão.
Alguém encontra sentido nisto? O Fundão vai investir 63 vezes (sessenta e três!!!) mais em habitação do que a Guarda.
Como se isto não bastasse, percebemos agora que um “lapso” da Câmara da Guarda obrigou os munícipes a pagarem mais IMI, uma vez que a proposta para reduzir imposto foi aprovada, mas a lista de beneficiários não foi entregue dentro do prazo pela autarquia à Autoridade Tributária. Ou seja, a gestão política da Câmara é pior que a de uma retrosaria de segunda categoria…
Observando a atividade de Sérgio Costa percebe-se porquê: é o campeão da política das tascas, dos arraiais e das festas de aldeia, dos lares de terceira idade e das excursões organizadas pelos padres. Uma sociedade guardense cada vez mais inovadora e aberta… tem um autarca cada vez mais paroquial. Uma caminha para cima, o outro puxa para baixo.
Costuma dizer-se que cada um tem o que merece. Não é o caso. A Guarda merecia melhor.

* Dirigente sindical e presidente distrital da SEDES Guarda

Sobre o autor

Acácio Pereira

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