A obra da Guarda

“Vergílio Ferreira, o autor de “Aparição” ou “Manhã Submersa”, também devia ter uma estátua na Guarda”

1. Ao ler a crónica de Thierry Santos que publicamos nesta edição – «”Estrela Polar”: a luz redentora que rompe as noites brancas da Guarda» – recordo duas reflexões sobre as quais meditei algumas vezes.
A primeira, uma cogitação sobre “Estrela Polar”, uma obra extraordinária, um dos meus livros preferidos de Vergílio Ferreira (talvez por andarilhar e sentir cada um dos lugares!) e um dos mais notáveis da literatura portuguesa contemporânea – a obra da Guarda por excelência. E que os guardenses não relevam (ou não conhecem!…).
A segunda, que comentei com o Pedro Figueiredo, na semana passada, enquanto apreciava a sua notável escultura de Eduardo Lourenço no Jardim José de Lemos, de que o autor de “Aparição” ou “Manhã Submersa” também devia ter uma estátua na Guarda. A cidade ficaria muito mais rica e muito mais bonita se homenageasse os grandes que aqui nasceram ou por aqui passaram. A Guarda tem de corrigir essa enorme injustiça e valorizar outro dos maiores de Portugal: Vergílio Ferreira. Melo é a terra e o palco natural da imortalidade do escritor, mas a Guarda foi a outra terra, a cidade que tanto o marcou, e a que dedicou essa “Estrela Polar” que o Thierry Santos tão oportunamente apelida de «luz redentora que rompe as noites brancas da Guarda». Porque, por estranho que possa parecer a alguns, «sem literatura, a Guarda seria apenas a Guarda». Sem dúvida!
2. É um orgulho que a Guarda lidere as comemorações do Centenário de Eduardo Lourenço; a cidade é muito maior do que o seu tamanho ao ter esta dimensão universal que é ser o centro do mundo do filósofo e pensador nascido há cem anos; a Guarda está muito mais bonita com a escultura inaugurada no Jardim José de Lemos que o imortaliza, pela obra e pela sua representação. Eduardo Lourenço foi «o oráculo de serviço da portugalidade» e um guardense de coração.
As comemorações do Centenário do ensaísta natural de São Pedro do Rio Seco são um abraço ibérico que celebra a adoção pela Guarda de um dos maiores de Portugal, que não tendo nascido na cidade também a adotou como a sua terra. O programa, abrangente e diverso, vai permitir que durante um ano os portugueses (e os guardenses) conheçam melhor o pensamento do autor de “Esplendor do caos”, que foi porventura quem melhor traçou o perfil do povo português.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

Leave a Reply