A novidade elétrica

Escrito por Diogo Cabrita

“A compra de um carro elétrico é, pois, uma indução falaciosa, uma das maiores construções de necessidade, partindo da elaboração de um discurso perverso que tem por lucro os mesmos do costume. “

Comprar um carro elétrico é maravilhoso para o ambiente – dizem. Mas não é completamente verdade. Milhares de argumentos sérios e tão científicos como os da crise ambiental, comprovam que as voltas todas que se dão para construir sustentabilidade energética criam problemas reais. Outro ponto é o preço da eletricidade que, acoplada a taxas, lucros indiretos, torna o carregamento elétrico num posto de rua muito mais caro que o consumo do petróleo e seus derivados. Numa hora boa, carregar 166 kms de autonomia custa 22 euros.
A compra de um carro elétrico é, pois, uma indução falaciosa, uma das maiores construções de necessidade, partindo da elaboração de um discurso perverso que tem por lucro os mesmos do costume. Na fatura de mobilidade elétrica encontra OPC GLP (Operador do ponto de carregamento), TAR (tarifa de acesso à rede), IEC (imposto especial sobre o consumo), CEME (Comercializador de eletricidade para a mobilidade elétrica), EGME (entidade gestora da rede de mobilidade elétrica) e podem todos arrecadar seu quinhão. Como feras ao petisco! A mobilidade elétrica não permite usar o cartão multibanco e pede cartões de novos predadores. Porquê? Para quê? Só existem em Portugal! Nada disto vem descrito nos discursos da construção da necessidade.
A Rede MOBI.E. encarregou-se de colocar os postos nas estradas. A Agência Portuguesa do Ambiente, via Fundo Português do Carbono, ajudou nesta redução de constrangimento. Os incentivos fiscais que permitem baixar o custo de um veículo elétrico até cerca de 30%, através nomeadamente da isenção do ISV e da isenção do IUC, a que acrescem, no caso de empresas, a isenção da Tributação Autónoma e a dedução do IVA nasceram em 2016 para catapultar as compras dos incautos e dos néscios. Os incentivos estão para desaparecer, o preço da MOBI.E. afasta o utilizador. Os discursos de 2016 do secretário de Estado Adjunto José Mendes (Univ. de Braga, engenheiro) e do ministro João Pedro Matos Fernandes (de Águeda, engenheiro, conhecedor dos portos de Portugal) em 2019 são parecidos na filosofia.
Tudo o que defendem devia sustentar-se em reduzir, reutilizar, organizar, mas está mais vertido em gastos milionários. Um bilião de euros até 2050 seria pouco para atingir o objetivo. De novo a política como farol do negócio. Gastar milhões para descarbonizar, para incentivar a mobilidade elétrica, para reduzir a dependência energética do país. São sempre discursos pomposos, com uma demagogia sustentada no medo do futuro, nas medidas contra o aquecimento global, mas esmiuçado o tema a medida mais importante deveria ser a política de redução das necessidades, a diminuição da população consumista, a educação para reduzir o consumo. O desperdício é o nosso maior inimigo, mas é a mais opulenta matriz do lucro

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Diogo Cabrita

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