Quando deixamos de olhar para o nosso próprio umbigo verificamos que, afinal, não somos o centro do mundo, pois abandonamos (umas vezes por vontade própria, outras nem tanto) o vampirismo emocional percebendo quão egoístas, chantagistas, egocêntricos e prejudiciais conseguimos ser. Jane Austen, em “Orgulho e Preconceito”, brinca com alguns costumes verificando o comportamento intrigante de certas personagens naquele dia em que Ivan Denisovich deixa de ter o mundo a seus pés.
O pensamento crítico desgasta o poder mediático, o tal que algumas vezes carrega desonestidade intelectual, que, no seu disfarce ético de imparcialidade, tenta mostrar uma isenção quase total, de difícil explicação. Para que os cidadãos possam ter um parecer avalizado impõe-se que tenham acesso a informações fidedignas, salientando-se o contraditório de opiniões.
O clubismo, a partidarite, a defesa de interesses instalados, fazem com que o preconceito exista, tendo em conta a posição do rabo entalado ou o gato escondido de rabo de fora e o ainda bem conhecido e tão presente chico espertismo, faz com que se continue a apresentar argumentos, alguns semi-credíveis que sustentam as suas (bem) intencionadas posições.
Numa análise psicológica destas esquisitas personagens, Dostoiévski, in “Crime e Castigo”, diz-nos que o delito pode ser moralmente correto, mesmo ocultando as evidências, perguntando nós se o mesmo não deixa de ser crime, se vai a julgamento e, se for, se haverá castigo.
Nos tempos que correm, mesmo com a pandemia em vaga de fundo, estão a vir ao de cima processos de corrupção, fugas à justiça, faltas à verdade que só uma atuação com verticalidade, serenidade e rigor obrigarão a deixar de lado o boato e as fontes duvidosas. Se assim não for, a informação não passa do amarelado marron brasileiro, do “yellow” americano ou do jornalismo de cordel português, neste mundo onde há tantos jornalistas a fazer política e tantos políticos a fazer jornalismo.
Percebemos assim que Bordieu tinha razão – «O que existe de mais terrível na comunicação é o inconsciente da comunicação» – e, de tanto informar, há quem se esqueça que está a ser permanentemente observado e nem sempre as melhores considerações e posteriores justificações resultam, pois o julgamento crítico existe e determina que a má-fé, o oportunismo, o cinismo, a hipocrisia de alguns (felizmente uma minoria), os tais que teimam em seguir o principio inquisitório do lápis azul, quais Tomases de Torquemada, que (mais cedo ou mais tarde) ficam com a careca ao léu entregando todo o mérito à vítima, sendo que a vergonha recairá permanentemente sobre eles.
Neste Monte dos Vendavais, o cronista não está sujeito à imparcialidade jornalística e, sem ficar mal na fotografia, vai tentando perceber o pensamento crítico que contraria o mediatismo de alguns projetos, quase pessoais, processos pouco claros que finalmente terminaram e pertencem ao passado.
Quiçá, desta forma e, quer se goste quer não, ficam a ganhar a urbe, a região, as organizações, a democracia…