A ciência é quase tudo para o desenvolvimento do território

Escrito por Joaquim Brigas

Em plena transição digital e energética, com o desafio incontornável de tornar o planeta sustentável para evitar a catástrofe ambiental, a ciência é o novo nome do desenvolvimento. Não há desenvolvimento sem ciência: o conhecimento é quase tudo.

O impacto da ciência no território é total e, muitas vezes, contraintuitivo. Na sociedade digital, onde para a criação de valor tanto faz trabalhar com um parceiro que está na secretária do lado como com o que está noutro continente, a competitividade geográfica altera-se e, muitas vezes, inverte-se.

Empresas de regiões periféricas como a Guarda (um típico território de montanha perto de uma fronteira) podem através da ciência tornarem-se mais competitivas do que aquelas que estão instaladas em grandes cidades nacionais ou estrangeiras. A sua capacidade de oferecer ao mercado global bens e serviços competitivos passa a depender, quase exclusivamente, da forma como articularem com instituições de ensino superior e centros de investigação para produzir conhecimento e, nesse capítulo, pela primeira vez na história da humanidade, estar na Guarda não é uma desvantagem competitiva em relação a empresas que estão sediadas em Lisboa ou em Berlim, por exemplo.

Pelo contrário: na sociedade digital há melhores condições para produzir ciência ou investir em desenvolvimento em cidades médias magníficas, com ótima qualidade de vida e acesso à natureza, do que em áreas metropolitanas saturadas, com preços exorbitantes e muito menos rendimento disponível no bolso das pessoas.

Quem olhar para o Portugal dos últimos 50 anos, que corresponde ao período em que o ensino superior se estendeu pelo território e deixou de ser um exclusivo de Coimbra, Porto e Lisboa, percebe bem a forma como ele promoveu a coesão e o desenvolvimento regional e nacional. Na sociedade do futuro, a Sociedade do Conhecimento, o poder transformador das instituições de ensino superior no território irá aumentar!

O poder de atrair talento para unidades de ensino e de I&D em territórios interiores com boa qualidade de vida, será maior. E isso é ótimo, porque a ciência e o ensino superior, são as formas mais baratas de promover a coesão territorial. E são também as formas mais inteligentes, mais estruturais e com maior potencial de atingir esse objetivo.

É preciso afirmar que tudo isto existe em potencial, mas não é adquirido. É preciso que as próprias comunidades se abram ao desafio da ciência e do conhecimento e que procurem inovar e qualificar o que produzem e prestam, bem como as formas de viver em cada território. Da parte das instituições que formam a academia é essencial que fortaleçam as interações com os diferentes agentes, como empresas, serviços públicos ou organizações sociais. É preciso que politécnicos e universidades promovam a inovação, a investigação interdisciplinar, o cruzamento de diferentes saberes, a colaboração entre a comunidade científica e a sociedade.

Com esta motivação, e muito trabalho, será possível proporem soluções competitivas para os desafios do futuro e melhorarem a qualidade de vida dos territórios onde estão instaladas.

* Presidente do Instituto Politécnico da Guarda.

Sobre o autor

Joaquim Brigas

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