A campanha eleitoral que aí vem serve para desenhar um novo governo. Tudo se desconstrói e volta a arrumar. Retirados os espantalhos das gavetas, os sapatos sujos do armário, os insultos guardados nos bolsos, a roupa interior com cheiro. Agora podemos tentar discutir as políticas de saúde, educação, transporte, investimento no PRR. Tudo indica que vamos continuar na maceração, na injúria, na procura de mais sujidade. Ferida macerada é uma coisa que dói, que se perpetua, que não cura. Para fazer doer é o lugar certo para colocar o dedo na ferida. Aos portugueses resta votar e aguardar o cenário provável. São vários: vitória do PS, sem maioria de esquerda. Vitória do PSD com maioria de direita, mas mantendo “não é não”. Ambos os cenários são instáveis e obrigam a acordos parlamentares ao centro. As políticas ao centro fazem crescer os extremos na eleição seguinte, como aprendemos na Alemanha, em França, na Itália etc. Uma maioria de direita como tínhamos até agora não devia ter sido desbaratada, e essa opção trará uma aula de Luís Montenegro nas universidades que o convidarem, se falhar o cargo de primeiro-ministro. Cenário divergente e surpreendente será o crescimento da Iniciativa Liberal para valores que dão maioria em acordo parlamentar com PS e/ou PSD. Duvido. Cenário de espanto será o minoritário PS fazer acordo com o Chega (como um dia fez com o CDS de extrema-direita). Há milhares de dependentes da política com a boca aberta que carecem de orientação das estruturas de empregabilidade em que se converteram os partidos e o aparelho de Estado. A motosserra de Miley é uma caricatura da realidade que nós também temos – quase um milhão de funcionários públicos e uma ineficiência inqualificável.
Este tema acabará por surgir em Portugal e um candidato com uma tesoura de podar ou de aparar sebes subirá nos resultados eleitorais, entre os milhões que não estando, ambicionam um lugar no Estado. A inveja, o ciúme, a pouca vergonha, a abstinência, a esperteza saloia, o subsidiado crónico, o raspadinhas, também vão votar e fazer suas opções.
A campanha
