As primeiras palavras são para parabenizar o jornal O INTERIOR pelos seus 21 anos de existência. O jornalismo local e comunitário, de que O INTERIOR é um bom exemplo, tem um papel importante na forma como “olha” para a região onde se insere. Afinal, é o jornalismo local que nos informa, de maneira confiável, sobre o que acontece próximo de nós, sobre o que condiciona e influencia as nossas vidas, o nosso quotidiano. Nada substitui a visão local, a proximidade com o leitor, a postura ativa na luta pelas justas reivindicações das populações.
Uma dessas justas reivindicações é o processo da Regionalização. Ao longo das últimas décadas, a discussão de criação das Regiões Administrativas em Portugal continental tem vindo a ser marcada por um adiamento sistemático agravado pelo processo de descentralização por via da municipalização em curso. Para além de permitir o aprofundamento da democracia participativa, aproxima as populações dos centros de decisão. A Regionalização é o meio que garante o reforço significativo da coesão e do controlo democrático e da participação dos cidadãos nos processos de tomada de decisão do nosso futuro coletivo. Ora, o jornal O INTERIOR tem sido testemunha e agente de mudança deste anseio por parte de múltiplos agentes da nossa Região. Veja-se, a este propósito, o editorial do seu diretor, Luís Baptista Martins (18 de março de 2021), que defende, passo a citar, «Defender a regionalização é apelar ao desenvolvimento do país como um todo, é corrigir as assimetrias cada vez mais evidentes, é pugnar por um estado descentralizado, é pretender uma governação de proximidade, eleita e politicamente responsável e responsabilizada».
Se ao longo destes 21 anos são visíveis na Guarda e na Região marcas de um desenvolvimento – embora desigual – em domínios como o ordenamento urbano e rural, abastecimento público, energia, transportes e comunicações, equipamento rural e urbano, habitação, património, cultura e ciência, educação, tempos livres e desporto, saúde, proteção da comunidade, ação social, proteção civil, ambiente, salubridade e saneamento básico, não é menos verdade que vivemos um período de “consumo rápido” onde a maioria dos projetos que se apresentam não são pensados estrategicamente e de forma integrada e coerente.
Olhar para as agendas locais do ponto de vista das políticas sociais implica então estar presente, conhecer, aferir, perguntar, criar relação, consolidar redes em torno de dimensões que vão desde a proteção social até à não discriminação, passando por tantas camadas como: as respostas às famílias, a saúde, a diversidade cultural, a exclusão, a pobreza, as dependências, a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens, os direitos das minorias.
Pensar as políticas sociais de um território implica assumir como preponderante o papel emancipador que tais políticas devem ter.
O enquadramento da atual crise alerta-nos para:
• o desemprego, que penaliza especialmente quem tem vínculos laborais precários;
• o número de trabalhadores sem apoio no desemprego ou com significativos cortes nos salários;
• os pensionistas que enfrentam risco de pobreza e também o seu próprio isolamento;
• os comerciantes que também registam grandes dificuldades em garantir o pagamento de salários, impostos e outros custos fixos inadiáveis.
Ao jornal O INTERIOR exigimos que continue o seu trabalho de testemunha e de agente de mudança da nossa Região.
* Coordenador distrital da Guarda do Bloco de Esquerda