20 Anos de jornalismo

Entretanto, O INTERIOR é um dos jornais que a nível mundial vai ser apoiado pela Google News Initiative ao abrigo do Journalism Emergency Relief Fund.

O Jornal O INTERIOR nasceu há 20 anos! Nasceu como uma pedrada no charco nas águas paradas do imobilismo informativo, do marasmo social e do atrofiamento político… A Guarda era então uma cidade clerical e secular e a região estava parada no tempo. E os jornais eram reminiscências do século XX – O INTERIOR foi o primeiro jornal da região a merecer o Prémio Gazeta de Imprensa Regional (que nos foi entregue pelo então secretário de Estado da Comunicação Social, Arons de Carvalho, que nos brinda com a sua colaboração nesta edição) em cerimónia presidida pelo então Presidente da República Jorge Sampaio. E foi o primeiro jornal em Portugal a nascer com dois suportes: em papel e online (num tempo em que poucos conheciam a Internet e os jornais digitais eram uma curiosidade distante).
Só hoje invocamos o nosso aniversário (tinhamos prevista a publicação de “Especial Aniversário” em março) por causa de uma pandemia indesejável que aniquilou sonhos e liberdades e nos confinou ao isolamento. Mas na verdade, o Jornal O INTERIOR nasceu no primeiro mês do século XXI e do terceiro milénio (a 14 de janeiro) – nasceu no ano em que as profecias anunciavam o fim do mundo
O INTERIOR é o resultado da preocupação e da vontade genuína de contrariar o marasmo e o atrofiamento social, cultural e político que se vivia na região. Resultado de muita discussão e reflexão entre mim e José Luís Carrilho de Almeida, o Jornal deu corpo à utopia, ao sonho de mudar a região, à vontade de promover a metamorfose das nossas cidades, vilas e aldeias. Com a colaboração de muitas pessoas cheias de energia e vontade de mudar o mundo, mudando apenas o nosso território, mudámos as mentalidades e promovemos o desenvolvimento, contribuímos decisivamente para uma sociedade mais moderna, mais exigente, mais democrática e com maior civilidade e urbanidade. Porque, como escreveu Albert Camus, «sem cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva». Foi assim que «demos vida ao interior». Lá longe, em 1999, promovemos a discussão do projeto com muitas personalidades instituindo o Conselho Editorial, integrado por Anabela Gradim, António Ferreira, António José Dias de Almeida, Carlos Baía, Cláudia Quelhas, João Canavilhas, José Manuel Mota da Romana, Maurício Vieira e Maria Antonieta Garcia. Mas ouvimos muitas mais pessoas, que viviam intensamente os problemas da região e mergulharam na utopia de O INTERIOR, e que neste momento também não podemos esquecer, como Carlos Adaixo, Américo Rodrigues, António Fidalgo, Diogo Cabrita, José Carlos Alexandre ou Nuno A. Jerónimo. E reunimos um grupo de jovens jornalistas (a redação foi inicialmente integrada, Elisabete Gonçalves, Luís Fonseca, Luís Martins e Victor Amaral) com várias colaborações que, ao longo dos anos contribuíram para a afirmação plural e editorial do jornal: Albino Bárbara, César Prata, Eduardo Lourenço, Francisco Pimentel, Godinho Gil, Joaquim Igreja, João de Almeida Santos, João Casteleiro, José Domingos, Luís Veloso, Manuel Sabino Perestrelo Miguel Castelo Branco, Miguel Sousa Tavares, Odete Santos, Pedro Dias de Almeida, Rui Costa, e tantos outros, porque O INTERIOR abriu as suas portas às mais diversas colaborações e às mais conspícuas opiniões.
Num tempo de enorme dificuldade para todos, em que a imprensa, além das dificuldades de contexto, vive a angústia da pandemia como todos os demais sectores; num país dependente das ajudas do Estado, em que não há agricultor que plante uma oliveira ou crie uma vaca sem ajudas públicas; em que não há um industrial que fabrique pregos ou camisolas sem apoios; em que não há um empreendedor que crie um emprego sem subsídios; em que não há um promotor que não candidate um projeto a financiamento europeu (e português)… tantos discutem os apoios do Estado à imprensa! Bastava perceber que em nome da Democracia e da relevância da Comunicação Social na vigilância e escrutínio dos diferentes poderes e na defesa da liberdade para não se confundir a imprensa com uma fábrica de sapatos. Ainda assim, neste momento, e enquanto todas as atividades económicas estão, e bem, a ser ajudadas pelo Estado, as “ajudas” à Comunicação Social «não acontecem» e podem ser suspensas (no nosso caso seriam uns tostões…). Entretanto, O INTERIOR é um dos jornais que a nível mundial vai ser apoiado pela Google News Initiative ao abrigo do Journalism Emergency Relief Fund.
Enquanto invocamos o nosso 20º Aniversário, e em nome da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão, a todos os que de alguma forma contribuíram para o nascimento e afirmação de O INTERIOR o nosso agradecimento.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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