O tema do desinvestimento e da assimetria demográfica portuguesa não é novo. Há duas décadas este jornal lançava-se nas bancas com o repto de “Dar Vida ao Interior” e denunciar os «problemas ancestrais» há muito presentes na região. Com o advento do novo milénio eram noticiadas mudanças e obras que – aparentemente – iriam contribuir para a mudança da conjuntura desfavorável.
Na edição número um de O INTERIOR a manchete anunciava uma nova «escultura invulgar para a fronteira», que seria colocada em Vilar Formoso. A obra a cargo do arquiteto/artista Leonel Moura seria «uma escultura monumental» com dez metros de largura e dezoito de altura, «devendo ocupar uma extensão de 55 metros». Até hoje nada se concretizou.
Na mesma edição salientava-se que a Guarda estava “À espera dos silos”, numa notícia referente à projeção de parques de estacionamento subterrâneos que seriam construídos em vários pontos da cidade, no âmbito do programa Polis. Um dos destaques que ficou pelo caminho foi um silo-auto sob a Praça Velha, uma obra que iria «transformar radicalmente a imagem do núcleo central da zona histórica». Passados poucos meses o valor da história falou mais alto e a ideia não foi avante.
O aeroporto regional da Covilhã e o IC6 foram outros dois temas que fizeram manchetes durante décadas, mas cuja concretização nunca se verificou. Já o troço do IP2, entre a Covilhã e a Guarda, sofreu acidentes de percurso e acabou transformado em SCUT A23. A autoestrada que se previa gratuita passou a ter pórticos em 2010, e, volvidos dez anos, a população dispõe apenas da ancestral N18 para deslocações sem taxa.
Ainda em 2000, foi capa o “TGV por Vilar Formoso”. Em junho desse ano, empresários nortenhos pressionavam o Governo para que a ligação entre o porto de Aveiro e Vilar Formoso fosse considerada aquando da construção do comboio de alta-velocidade que Portugal nunca viu passar. «Para os empresários do Norte esta solução seria mais interessante do ponto de vista da economia, pois são muitas as relações comerciais que esta região mantém com o norte de Espanha», escrevia-se neste jornal.
O Hospital Sousa Martins conseguiu, quatro anos depois da promessa de Sócrates, as merecidas obras. Mas passados dez anos a conclusão da sua requalificação continua sem data à vista.
Em 2003, sob a liderança de Maria do Carmo Borges, a Guarda planeava «avançar» com um projeto de instalação de um casino. «Não há casinos nas redondezas, o mais próximo está na Figueira da Foz e nós temos que nos mentalizar que também é com projetos arrojados como este que se dinamiza uma cidade», afirmava então a autarca. Meses depois era notícia nacional o interesse da Covilhã no mesmo tipo de projeto, que chegou a ser pensado para as Penhas da Saúde. Apesar do pedido, enviado à Inspeção-Geral de Jogos, os dados nunca chegaram a ser lançados.
Sofia Craveiro