P – Qual é a radiografia que faz do concelho da Guarda e dos últimos executivos municipais?
R – Todos os nossos ex-executivos são, em primeiro lugar, pessoas que fazem o seu melhor e, em segundo, fazendo o seu melhor, não têm feito o que a Guarda necessita, deixando em aberto algumas coisas que até são promessas do seu programa eleitoral. O primeiro mandato do presidente que deixou de o ser, por opção própria, teve a preocupação de colocar o nome da Guarda no espectro nacional e conseguiu-o, acabando por esquecer outras áreas importantes para o seu desenvolvimento e por isso não conseguiu atingir o objetivo central da governação.
P – Na sua opinião, o que está mal no concelho?
R – Ao contrário do que se vai apregoando, o emprego é uma questão grave, nomeadamente o emprego jovem, que faz com que os jovens tenham de sair do concelho. É necessário um programa muito agressivo do emprego jovem, algo que não foi feito. Também me parece que não é desejável que se mantenha o formato de um único tipo de empresa e com mão de obra pouco especializada. A Guarda necessita de empresas com mão de obra especializada, que deixem no mercado de trabalho valores consideráveis para que se consiga animar o mercado.
P – O atual presidente de Câmara afirmou que vão ser criados mil novos postos de trabalho, quer comentar?
R – A Câmara não cria empregos, apenas empregos públicos na própria autarquia. Pode criar condições para fixar empresas e isso não tem sido feito de forma estruturada, pensada. Sabemos que há empresas que se querem instalar em determinados momentos e nem sequer são recebidas pelo município, pelo que a criação dos mil empregos me parece uma falsa questão. Temos é de ter empregos qualificados, tal como temos que ter um turismo específico, que deixe na economia receitas substanciais. Nem todo o turismo serve, mas a Guarda precisa de cativar turismo específico, de elite, por exemplo turismo da saúde, judaico, porque temos muito boas condições para tal. Relativamente à economia, temos de selecionar empresas, abrir o mercado e ajudá-las a fixarem-se e a contratar mão de obra mais especializada.
P – Disse há dias que um grande investimento pode estar em perspetiva para a Guarda, pode adiantar mais sobre isso? Até que ponto esse projeto depende ou não da vitória de Luís Couto?
R – Espero que não dependa da vitória do Luís Couto e que se possa concretizar independentemente de quem assuma a Câmara. O que fizemos foi uma ação concertada com o secretário de Estado da Internacionalização Eurico Brilhante Dias, a quem pedimos que a Guarda fosse incluída na lista de captação de empresas da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal). Por coincidência, surgiu uma empresa que perguntou onde se podia instalar, foram-lhe sugeridos vários locais, com especial enfoque na Guarda. Ao que sei, a AICEP pediu à Câmara que receba essa empresa para saberem com o que podem ou não contar. Vou estar atento e seguir o processo, que está em andamento.
P – Em relação ao Hotel Turismo, defende que o assunto deva ser resolvido por parte do Turismo de Portugal, Governo ou do município?
R – Acho que a Câmara deve interferir diretamente. Embora tenha sido uma governação socialista a ceder o imóvel ao Turismo de Portugal, nunca concordei com essa venda. A Câmara não é o gestor primordial, mas o hotel é um ativo da autarquia e devia tê-lo na sua posse. O importante é reabrir o hotel. Quando começamos a pensar na nossa candidatura desenvolvemos contactos e concluiu-se que se podia retomar o processo através do REVIVE, tendo sido pedida uma situação excecional para um novo concurso. Falámos com uma pessoa, que parecia poder ajudar, na tentativa de abordar alguns operadores do setor e há, pelo menos, uma pessoa interessada neste negócio, em visitar o hotel para ver se avança com uma proposta. Acredito que será desta que haverá um final feliz. Mas a Câmara terá de dizer ao Estado que aquele património tem de ser devolvido ao município, é isso que farei. Se o processo não avançar direi ao Estado que nos devolva o Hotel Turismo para que possamos fazer um investimento através de uma parceria.
P – Voltando aos projetos que pode apresentar na sua candidatura, quais pretende concretizar?
R – A nossa ação vai andar à volta de três eixos. Um primeiro tem a ver com o desenvolvimento económico, a fixação de empresas, a atração de investidores e, consequentemente, a criação de emprego e emprego jovem. Vamos ter uma política bastante agressiva no que toca à fixação de empresas na Guarda, de preferência de áreas alternativas às que hoje estão por cá, mas ajudando também as que já cá estão. Gostaríamos de consolidar a vocação logística que está a crescer na Guarda, sendo que o Porto Seco é algo sobre o qual temos uma ideia muito clara, desde a localização, ligações à autoestrada e VICEG e a complementaridade com a PLIE. É uma obra estruturante para a Guarda que pode levar à criação ou colocação de novas empresas, pelo estatuto alfandegário que vai ter. Haja o que houver, na Câmara, como governo ou oposição, estaremos na primeira linha de defesa do Porto Seco. O desenvolvimento económico será complementado com duas coisas que me parecem necessárias para uma cidade atrativa: o urbanismo e a mobilidade. Queremos aplicar o projeto “MOBILE”, uma nova rede de autocarros elétricos não só para a Guarda, mas para todo o concelho. Temos também uma medida de transporte para a saúde, para pessoas que necessitam de vir fazer tratamentos à cidade que será gratuito nalgumas situações.
P – Qual a sua posição relativamente à ULS e à colocação de médicos na Guarda?
R – É a mesma desde o primeiro dia. Lamento que se tenha aberto um concurso nos termos em que o foi porque claramente está muito aquém das nossas necessidades. Depois de ouvir dezenas de pessoas que trabalham na ULS, essa é uma falsa questão. O Governo PSD, de 2011 ao primeiro semestre de 2015, abriu 148 vagas e conseguiu colocar na Guarda 27 médicos. O PS abriu 157 vagas, sem incluir o ano 20/21, mais sete vagas que o Governo PSD, e conseguiu colocar 48 médicos. A questão não é dos Governos, o problema é as vagas que ficam por preencher. A interioridade é uma das razões, mas também a forma como funciona o hospital, pelo que tem de haver, internamente, uma nova forma de integrar os profissionais.
P – O facto de ter sido lançada agora a construção do Pavilhão 5, não é a concretização da “segunda fase” do hospital que os guardenses ansiavam, o que tem a dizer sobre isso?
R – É curioso que o presidente da Câmara, e militante do PSD, só se tenha lembrado da saúde agora. Podia ter-se lembrado quando, em 2012, Paulo Macedo decidiu rasgar o contrato para a construção da segunda fase, que estava financiada. Ainda não sabemos quanto é que isso nos custou. O problema do hospital da Guarda tem a ver com a forma como se podem fixar médicos, mas não só. A Guarda não soube arranjar uma estrutura que proteja a vinda dos médicos. Um médico chega e não tem uma casa para arrendar, não se devia já ter previsto a construção de um parque habitacional que permita a fixação de casais jovens? Provavelmente que se isso acontecesse seria mais fácil fixar médicos.
P – Se não vencer as eleições irá cumprir o mandato de vereador até ao fim?
R – Independentemente do resultado final, caso perca assumo o papel de vereador.
P – A inclusão de Pedro Pires e Vergílio Bento nas suas listas criou clivagens no seio do partido, foram dois nomes impostos ou foi Luís Couto que os escolheu?
R – No dia em que fui convidado e no dia em que aceitei ficou muito claro que a lista à Câmara seria da minha responsabilidade. Convidei-os pelas suas condições, que considero adequadas para complementar a lista, eles aceitaram e fiquei muito tranquilo com isso. Convidei-os na certeza, que pelos vistos não era tão certa como isso, de acabar de uma vez por todas com algumas feridas que o PS tem. Como sabe sou independente, a minha ação foi no sentido de agregar todas as pessoas, mas pelos vistos há feridas que algumas pessoas mantêm. Aceito que as pessoas tenham posições diferentes, contudo, para mim fazia sentido ter Pedro Pires na lista à Câmara e Virgílio Bento à Assembleia Municipal.
P – Acha que se unir o PS tem outras condições para ganhar?
R – Eu acho que o PS unido tem todas as possibilidades de ganhar todas as eleições na Guarda.
P – Admite uma aliança pós-eleitoral, por exemplo com Sérgio Costa, caso Carlos Chaves Monteiro ganhe com maioria relativa?
R – Neste momento não admito nada porque espero ganhar as eleições com maioria.
P – Como vê estas semanas de pré-campanha?
R – Vejo a candidatura com um ambiente mais favorável para ganhar as eleições do que há oito dias. Estamos a crescer todas as semanas, os apoios públicos na comunidade são cada vez maiores e neste momento é muito positiva a imagem que temos.
P – A Guarda é candidata a Capital Europeia da Cultura 2027, o que defende para a Guarda em termos culturais? Como vê o papel da Câmara para a tal capitalidade cultural?
R – Lutarei até 2027 para que a Guarda seja Capital da Cultura, um projeto que abraço. Assisti à assinatura do protocolo inicial e fiquei um pouco surpreendido com a pouca importância das cento e poucas associações do distrito. Parecia-me que a candidata era a Covilhã, não tenho nada contra que as entidades que fazem parte da candidatura, apenas não vi a Guarda reconhecida a esse nível. Vejo espetáculos, o que é muito positivo, mas falta envolvimento das estruturas do concelho e distrito, que não se reveem nesse projeto. Outra coisa que me preocupa é haver um candidato à Assembleia Municipal que é diretor executivo de outra candidatura a Capital Europeia da Cultura. Desse candidato podemos esperar o quê? Que defenda a Guarda ou a outra entidade, em Oeiras? Nada contra o candidato, que é meu amigo, mas acho que a candidatura do PSD arranjou mais um entrave para a aprovação da candidatura da Guarda.