Entrevista Especial Trancoso

«É uma feira extremamente importante, com um retorno muito grande para a nossa economia»

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Escrito por Efigénia Marques

P – Após dois anos de interregno, a Feira de São Bartolomeu está de regresso a Trancoso e com um cartaz forte. Quais são as expectativas para esta edição?

R – Trancoso é uma terra de grandes mercados semanais, de grandes feiras e de grandes eventos. Mas a mais importante, aquela que traz mais gente e que tem maior retorno em termos económicos, é sem dúvida a Feira de São Bartolomeu, que é só a feira franca mais antiga do país. Foi criada em 1273, portanto, estamos a comemorar já 749 anos. É uma feira extremamente importante, de referência regional, que atrai muita gente e, portanto, gera um retorno muito grande para a nossa economia. Não foi possível realizar o certame nos últimos dois anos e isso teve um impacto muito negativo na economia local. Neste regresso a procura de expositores até excedeu a oferta e houve alguns agentes económicos que não conseguiram espaço. As pessoas também estão ansiosas por estes eventos. Vivemos tempos de muita dificuldade, sobretudo devido à inflação, à guerra na Ucrânia, à seca e à preocupação com os incêndios, mas nota-se alguma ansiedade na população na expectativa da festa. O local onde a feira se realiza é um espaço de grandes dimensões, muito próximo do centro do centro histórico, e com o pavilhão multiusos, que vai acolher a feira das atividades económicas, vamos ter ocupados cerca de 3,2 hectares. No campo de feira teremos os bares, o artesanato, as diversões e os stands de automóveis novos e usados, as tasquinhas, o palco dos espetáculos, a maquinaria agrícola. No interior do pavilhão teremos quase meia centena de expositores. Tudo isto faz com que estejamos a encarar esta edição da Feira de São Bartolomeu com grandes expetativas.

P – E há alguma novidade, alguma coisa que irá mudar este ano?

R – O figurino é muito parecido ao de 2019, mas neste regresso procurámos apresentar um cartaz de grande qualidade com alguns dos nomes dos melhores artistas portugueses, como Tony Carreira, Carolina Deslandes, Pedro Abrunhosa, Zé Amaro, Cláudia Martins & Minhotos Marotos, Resistência, Karetus, Augusto Canário, Marco Rodrigues… Procurámos ir ao encontro das várias faixas etárias e isso dá-nos a garantia que vão passar muitos milhares de pessoas por Trancoso entre os dias 12 e 21 de agosto. De resto, só vamos ter bilheteira em cinco noites e com preços muito simbólicos, de 2,5 e 3 euros. Mas a nossa expectativa é obter uma receita significativa porque, se forem vendidos 40 ou 50 mil bilhetes, mesmo a dois euros, é de facto um contributo importante para o investimento da Câmara. Contudo, este é um investimento que vale a pena fazer porque tem um grande retorno económico para o concelho e para a região.

P – E qual é o valor do orçamento desta edição da Feira de São Bartolomeu?

R – Este ano, fruto da inflação, obviamente que o investimento ficou substancialmente maior e foi da ordem dos 260 mil euros, com espetáculos e infraestruturas incluídas. É um valor significativo, mas vai ter o seu retorno, vemos isso nos indicadores que depois temos, nomeadamente na rede de multibancos, muito utilizada nesta época do ano. Trancoso é uma terra com um turismo muito forte e a feira decorre num espaço praticamente no centro histórico. Depois há todo um conjunto de visitantes que vêm só pelos espetáculos, após os quais haverá sempre DJ’s até às 3/4 da manhã. Por tudo isso, esperamos 10 dias de grande movimento, de grande animação, em Trancoso.

P – Acha que as pessoas ainda têm receio de conviver, visto que a pandemia ainda é muito recente, ou acredita que estão ansiosas para voltar a este ritmo de festa?

R – As pessoas estão de facto ansiosas, apesar da dificuldade financeira que afeta as famílias. A inflação é a maior dos últimos 30 anos e acabará, de certa forma, por retrair um pouco o consumo. Mas as pessoas que venham porque a feira é ao ar livre e o espaço é muito grande. Além disso, o município tomará também algumas medidas, nomeadamente sistemas de higienização das mãos no recinto, porque a pandemia ainda não acabou. Mas sendo um evento que se realiza ao ar livre creio que podemos ficar naturalmente tranquilos.

P – Quantos expositores vão participar nesta edição? Houve muita procura?

R – Houve, mais do que em 2019, até em termos do artesanato, já que temos mais de 30 expositores vindos de quase 20 concelhos. Isto mostra bem a dimensão que tem esta feira. No setor dos automóveis novos e usados contamos com uma dezena de expositores e este ano há uma grande participação de expositores do concelho, nos bazares, na maquinaria agrícola, nas tasquinhas, nos restaurantes… Houve um bom envolvimento de algumas associações de Trancoso. Já no Pavilhão das Atividades Económicas há muitos expositores locais nos mais diversos ramos, das energias renováveis à segurança e segurança eletrónica, à climatização e aos vinhos, passando pelos frutos secos, móveis, fumeiros e queijos. No total ultrapassamos a centena e meia de expositores no interior e no exterior do pavilhão.

P – Qual foi o impacto no concelho da não realização da Feira de São Bartolomeu nestes últimos dois anos?

R – Foi uma perda muito grande. Em 2020 e 2021 as empresas – sobretudo o comércio, que é um dos principais setores de Trancoso –, o turismo e os serviços viveram dois anos muito difíceis e presto homenagem a todos os comerciantes e empresários do concelho que conseguiram resistir porque mantiveram os postos de trabalho, não fecharam portas e cá estão para enfrentar o ano 2022, que está a ser bastante melhor. Trancoso já está praticamente com o mesmo número de visitantes e creio que no final do ano iremos provavelmente igualar os dados de 2019 nas visitas ao castelo, à Casa do Bandarra e a todos os nossos equipamentos municipais.

«Os tempos são muito difíceis para as empresas, para as famílias e também para as autarquias»

P – Depois da pandemia, em que tudo ficou um pouco mais parado, quais são os principais projetos para o futuro imediato de Trancoso?
R – Os tempos são difíceis para as empresas, para as famílias, para o dia-a-dia das pessoas e também muito difíceis para as autarquias por causa do custo dos combustíveis e da energia. De qualquer das formas, a Câmara de Trancoso procurou nos últimos mandatos resolver os problemas do dia-a-dia das populações e fomos fazendo os principais projetos de acordo com as nossas possibilidades financeiras. Já neste primeiro ano do terceiro mandato foram muitos os projetos concluídos, nomeadamente a remodelação da rede de águas e a repavimentação do bairro de Santa Luzia. Em breve vamos inaugurar o loteamento da Senhora da Fresta, iremos disponibilizar mais nove lotes de terreno este mês ou no início de setembro. Está praticamente a entrar em funcionamento uma área de acolhimento empresarial, cujos 15 lotes foram já entregues. Há ali quatro pavilhões em construção e mais um já em funcionamento. Naquela área empresarial vão ser criados mais de 30 postos de trabalho. Além disso, há alguns projetos que vamos continuar a desenvolver no âmbito do comércio, do turismo, porque Trancoso é uma terra muito visitada. Em Moreira de Rei, onde está a maior necrópole da Península Ibérica, temos em curso um projeto de valorização desse património e da envolvente da Igreja de Santa Marinha. Ainda este ano vamos também inaugurar um pequeno centro de interpretação, enquanto na cidade as obras de requalificação do castelo continuam e também serão concluídas em breve. Em Trancoso está em fase de conclusão a incubadora de empresas, que fica no centro histórico, no antigo edifício da GNR, sendo expectável que a sua inauguração aconteça lá para o final do ano. O objetivo do projeto é apoiar e incentivar o empreendedorismo. Também pensamos requalificar em breve a zona industrial de Vila Franca das Naves e criar uma nova no Reboleiro. Na área do ambiente, estamos a requalificar a ETAR de Vila Franca das Naves, num investimento da ordem dos 350 mil euros. No setor da Educação estamos a elaborar os projetos de requalificação da escola secundária, da EB 2 e 3 de Trancoso e da EB 2 de Vila Franca das Naves. São estes os projetos que temos para este mandato e com certeza que vamos conseguir. Iremos também elaborar um plano pormenor da barragem da Teja e, após a sua aprovação, avançaremos para a construção de um parque de lazer.

P – Qual é o ponto da situação da requalificação do Palácio Ducal e dos Paços do Concelho?
R – A reabilitação dos Paços do Concelho está mesmo numa fase final, tendo o projeto sido aprovado e assinado num protocolo com a Direção-Geral das Autarquias Locais, que vai assegurar uma parte do financiamento. O concurso público ainda não foi lançado porque aguardamos apenas o parecer da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. É o único documento que falta e que já foi solicitado há cerca de um mês. Trata-se de uma obra importante que queremos lançar em breve porque vai melhorar as condições de quem aqui trabalha e também dos munícipes que vêm tratar dos seus assuntos. Quanto ao Museu da Cidade, a instalar no Palácio Ducal, também aguardamos que sejam entregues, provavelmente este mês, os projetos finais de execução para podermos abrir o concurso público. É uma obra que deverá ultrapassar os 3,5 milhões de euros e que iremos procurar candidatar ao PRR.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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