A capeia arraiana é uma manifestação tauromáquica específica das aldeias da raia sabugalense, as mais próximas da fronteira com Espanha. Trata-se de uma tradição peculiar que se distingue de todas as outras atividades tauromáquicas, visto que são feitas de forma coletiva e com recurso a um forcão, sem ferir o animal.
Este ano, pelo segundo consecutivo, e devido à pandemia, o tradicional calendário das capeias não se realizará, o que causa prejuízos avultados aos ganadeiros e também à economia local das aldeias que as organizam. José “Noi”, assim conhecido em toda a raia, tem neste momento 34 touros e oito cabrestos e adianta que «só em alimentação do gado, nestes dois anos, foram cerca de 50 mil euros de prejuízo». O ganadeiro natural dos Forcalhos, construtor civil de profissão, revela que se não fosse o trabalho de construção, nunca conseguiria sustentar todos os animais. No entanto, José “Noi” afirma que o faz por gosto e que, ao contrário dos outros ganadeiros que já venderam tudo, vai aguentar até ao próximo ano. Só se não houver capeias no Verão do próximo ano é que se retirará da atividade porque começa «a ficar avisado».
Aldeia Velha, palco anualmente da última capeia da época, a 25 de agosto, conta com cerca de 431 habitantes e na altura das festas recebe cerca de 6.000 a 7.000 visitantes. Segundo o presidente da junta, Paulo Ramos, «o impacto económico é significativo, sobretudo para os minimercados, cafés e empresas que costumam lucrar com esse acontecimento». O autarca adianta ainda que a «organização do evento é feita por uma mordomia, composta por dois jovens solteiros», que depois são responsáveis por «tratar dos touros e de tudo o que a capeia envolve». João Cláudio Madalena, um aficionado natural da Lageosa da Raia, acrescenta que é altura de repensar esta tradição para as próximas décadas e debater temas fundamentais como «a saúde e bem-estar animal de touros e cavalos; melhorar questões de assistência médica sanitária de todos os participantes e espectadores; segurança e conforto; melhoria do ritmo dos acontecimentos; criação de uma Academia do Forcão; e, formas e canais de divulgação do evento».
Além disso, o entusiasta desta atividade realça também o caráter único da capeia e, por isso, o seu potencial turístico: «Como tal, podemos vir a usar estes momentos para criar uma via sempre larga onde se conjuguem todas as variantes e variáveis de cada localidade, num caminho que terá de ser percorrido em conjunto», concluiu João Cláudio Madalena. A capeia arraiana está registada como Património Cultural Imaterial no Inventário Nacional.
Capeias arraianas não se realizam pelo segundo ano consecutivo
Estas manifestações tradicionais são uma importante atração das povoações do concelho do Sabugal no mês de agosto