A «partilha de experiências», o «amor à música» e a «criação de laços», fazem da Orquestra Académica Filarmónica Portuguesa um projecto que reflete o entusiasmo dos seus músicos. A iniciativa, que pretende proporcionar experiências e formação orquestral, tem sede na Guarda e estreou-se ontem no TMG, numa atuação que marca o início dos “Concertos da Primavera” na cidade mais alta.
O recital teve como solista o violoncelista russo Pavel Gomziakov, tendo sido interpretadas obras como o “In Memoriam”, de Ana Ataíde Magalhães, o Concerto para violoncelo de Edward Elgar e a Sinfonia n°2 de Johannes Brahms. O programa foi cuidadosamente trabalhado pelos músicos, cujo entusiasmo e boa disposição eram já visíveis nos ensaios que decorreram no início desta semana. «A Guarda é um orgulho para nós», afirma Ana Margarida Lamelas. Natural da cidade mais alta, a jovem violista está a estudar no ensino superior do Reino Unido e não tem dúvidas em afirmar que «já fazia falta um projecto assim» na cidade. «Quando frequentava o secundário não tínhamos este tipo de oportunidades, tanto que muitas pessoas da minha idade saíram, não só da cidade, mas do país – como foi o meu caso – para as procurar nesta área e agora acho fantástico ter a possibilidade de as trazer para aqui. Talvez no futuro as pessoas não tenham de sair para terem estas oportunidades», considera a instrumentista.
Este otimismo é partilhado por Teresa Julião, violinista de Lisboa, para quem, «no fundo, tudo isto é uma junção de pessoas de todo o país. Além de amizades partilhamos trabalho, paixão pela música e acho que é isso que nos traz aqui», acrescenta. A Orquestra Académica Filármónica Portuguesa funciona como uma academia de formação de jovens músicos, proporcionando-lhes experiência orquestral e oportunidades de futuro. No seu concerto de estreia contou com cerca de 80 músicos, escolhidos através de audições de quase 300 candidatos a nível nacional. «São jovens bem preparados nas suas escolas e conservatórios e que, no fundo, vêm partilhar conhecimentos com um maestro muito experiente e professores de naipe que já foram membros de orquestras importantes», salienta o diretor criativo do projeto, Osvaldo Ferreira. O maestro lembra que há músicos de «praticamente todas as regiões do país», bem como instrumentistas brasileiros residentes em Portugal.
Maestro alemão elogia qualidade dos músicos
Para o responsável, a qualidade do trabalho final é o elemento mais importante: «Não é que estejamos a fazer algo único ou melhor que os outros, mas com certeza que estamos a fazê-lo com muita seriedade e antecipação». A qualidade dos músicos é também salientada por Tobias Gossmann, maestro alemão convidado para dirigir a orquestra na estreia. «Se continuarem assim estes jovens terão um grande futuro como músicos profissionais. Fico muito surpreendido pelo nível que já têm», sublinha o músico alemão, que estudou piano, violino e conta já com um vasto currículo internacional, sendo desde 2018 diretor artístico e maestro principal da Orquestra Filarmónica da Universidade de Alicante (Espanha). Sobre a experiência na Guarda, o maestro destaca o «entusiasmo» destes jovens músicos, que estão «bem preparados, adoram música e têm imensa energia». Natural da Covilhã, a violoncelista Raquel Fernandes confessa estar «a gostar muito» de trabalhar com Tobias Gossmann. «É muito exigente e penso que com ele estamos a fazer um bom trabalho», acredita.
O projeto está inserido na candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027 e resulta de um protocolo entre o município da Guarda e a Orquestra Filarmónica Portuguesa, que prevê um apoio financeiro anual de 70 mil euros e a instalação da orquestra no TMG. Victor Amaral, vereador da Cultura na autarquia, considera que esta orquestra «é claramente um momento de grande afirmação na nossa política cultural pela sua grande qualidade artística e técnica», pois «temos a garantia que estamos a projetar, a partir da Guarda, uma grande orquestra jovem». Depois do TMG, o próximo espetáculo acontece esta quinta-feira em Viseu e sexta no Porto. Seguem-se Lisboa e Salamanca em setembro.