P – Como surgiu este desafio para integrar o Conselho Editorial da editora “Lugar da Palavra” na edição da Antologia Poética “Mimos de Setembro”?
R – Sou autor representado em diversas antologias de poesia que têm a chancela da “Lugar da Palavra”. Os responsáveis da editora lançaram-me o desafio, que prontamente aceitei, de integrar o Conselho Editorial na edição da antologia poética “Mimos de Setembro”. Trata-se de um projeto aliciante que vai seguramente enriquecer a minha experiência no mundo das letras, sendo um privilégio fazer parte de tão ilustre e valorosa equipa.
P – Qual será a sua tarefa? Que critérios vão nortear essa antologia?
R – O Conselho Editorial, composto por três elementos, terá a função de pronunciar-se em relação à qualidade dos textos com vista à sua inclusão, ou não, na antologia. Os principais critérios são: a criatividade; a adequação e análise morfológica e sintática; o estilo e a originalidade do tema; a riqueza do conteúdo. As antologias de poesia acabam por ser um estímulo à literacia.
P – Como está a poesia na região? É o parente pobre da atividade cultural?
R – Não considero que a poesia seja o parente pobre da atividade cultural, embora reconheça que há poucos projetos culturais que têm a poesia como protagonista. Recentemente a Câmara Municipal da Guarda, através da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, promoveu a iniciativa “Poemas do Alto Desassossego”. Tive o privilégio de participar com dois poemas da minha autoria e um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, a poetisa que mais admiro. É certamente importante disseminar a poesia por todos, mas em tempos de pandemia essa relevância acaba por sair reforçada. Brevemente, e a convite da Associação “Malcata com Futuro”, vou organizar, na cidade do Sabugal, um encontro de poesia com autores do distrito da Guarda. De referir que há poetas na nossa região que têm enorme valor e que, paulatinamente, vão conquistando o seu espaço no contexto nacional. Recordo, tal como já referi inúmeras vezes em apresentações de livros de poesia, que a poesia é inútil, daí a sua incomensurável grandeza. O maravilhoso da poesia talvez seja mesmo a sua inutilidade. A poesia é a mais inútil e, simultaneamente, a mais transformadora manifestação do homem. A poesia não prova nada, sendo simplesmente e naturalmente aquilo que o homem sente e expressa.
P – Continua a ser uma arte apreciada por poucos, o que pode ser feito para fomentar a sua divulgação?
R – Há muitos apreciadores de poesia, todavia a mesma necessita de ser mais divulgada. Os encontros de poesia, as feiras do livro, a declamação de poemas nas ruas, as tertúlias de poesia, as antologias de poesia e as oficinas de escrita constituem algumas configurações que devem ser concretizadas com maior assiduidade, pois contribuem, de modo significativo, para a divulgação da poesia. Coordeno oficinas de escrita na Casa de Saúde Bento Menni e no Estabelecimento Prisional da Guarda, nas quais se realizam exercícios que têm como finalidade principal motivar os participantes a escrever textos individuais ou coletivos. Os participantes selecionam os melhores textos e no final editamos um livro coletivo. Nas oficinas de escrita a poesia tem um papel capital, sendo a leitura de poemas usada como estímulo. Também coordeno oficinas de estimulação cognitiva nos Centros de Dia da Arrifana, Casal de Cinza e Vila Garcia, lugares onde a poesia desfila frequentemente. A poesia contribui para melhorar a qualidade de vida dos idosos. De realçar que desde 2018 foram editados, no âmbito das oficinas de escrita, e para além dos livros coletivos, três livros individuais de poesia, dois na Casa de Saúde Bento Menni e um no Estabelecimento Prisional da Guarda. As oficinas de escrita e as oficinas de estimulação cognitiva resultam de uma parceria entre a Divisão de Educação, Intervenção Social e Saúde da Câmara da Guarda e as várias Instituições.
P – A pandemia foi propensa à criação poética, ou nem por isso?
R – A pandemia foi propensa à criação poética. Em tempos de pandemia acabamos por meditar mais em afetos, liberdade, desejos, sonhos e contradições. Reunimos recordações, temos os corações apertados e desalinhados, avistamos cenários labirínticos, gritamos ao tempo recente e acreditamos na madrugada. Tantas emoções, risos e lágrimas. Na verdade, escrevi vários poemas em período de confinamento. De salientar que a literatura também pode agasalhar um importante papel solidário, prova disso foi o recente lançamento da coletânea de histórias “À Volta da Fogueira”, da Emporium Editora, um projeto solidário que teve como principal objetivo apoiar o nosso SNS no combate à pandemia de Covid-19. O lucro da edição, cerca de quatro mil euros, foi doado ao SNS para aquisição de equipamentos de proteção individual e dispositivos médicos. Sou autor representado nesta coletânea com o poema “Desassossego”.
P – No seu caso, tem novas edições em perspetiva?
R – Até ao momento editei quatro livros e participei em várias antologias de poesia. Tenho cerca de cem poemas da minha autoria e pretendo publicar, no final de 2021 e no concelho do Sabugal, o primeiro livro de poesia.
Perfil de Alexandre Gonçalves:
Poeta
Idade: 43 anos
Naturalidade: Aldeia do Bispo (Sabugal)
Profissão: Técnico superior na Divisão de Educação, Intervenção Social e Saúde da Câmara da Guarda
Currículo (resumido): Licenciatura em Relações Públicas e pós-graduação em Reabilitação Patrimonial; Representante oficial da Chiado Books; Colaborador residente em vários jornais e numa rádio local; Vice-presidente da concelhia do PS do Sabugal; Deputado na Assembleia Municipal do Sabugal; Deputado intermunicipal na Comunidade Intermunicipal Beiras e Serra da Estrela; Secretário da Direção do Centro Cultural da Guarda; e chanceler da Confraria do Cabrito na Brasa-Sabugal.
Livro preferido: “O Filho do Pecado”
Filme preferido: “Braveheart”
Hobbies: Ler, escrever, cantar, fazer trabalho voluntário, cozinhar e fazer caminhadas.