Cara a Cara

«A Distrital do PSD da Guarda precisa de novas ideias, não de caciques»

Escrito por Jornal O Interior

Entrevista a Luís Soares, Presidente da Comissão Política Distrital da JSD da Guarda

P – Qual é o seu projeto para a Distrital da JSD da Guarda?
R – O fim de qualquer organização política deve ser o de servir as populações. Para a JSD Distrital da Guarda, o fim deverá estar especialmente ligado àqueles que serão o futuro do nosso distrito e do país, os jovens, sem, no entanto, esquecer as problemáticas de toda a sociedade civil. O nosso projeto assenta, desse modo, na contribuição para a construção da sociedade do futuro, trazendo à discussão várias temáticas estruturantes para a nossa região, nomeadamente a economia, a saúde ou a mobilidade, e que medidas devem ser desenvolvidas de modo a desenvolver um país menos assimétrico. Por outro lado, este mandato tem a sua conclusão com as eleições autárquicas, portanto nada mais faria sentido do que dedicar grande parte da nossa ação aos nossos municípios e à política de proximidade às populações.

P – E quais as causas pelas quais acha prioritário lutar/ defender no distrito?
R – As causas prioritárias serão certamente ligadas à coesão territorial. Precisamos de medidas potenciadoras da economia local e do emprego, de repensar a oferta do ensino superior da região e de discutir quais as medidas necessárias para fazer face aos desafios demográficos que já enfrentamos e que se acentuarão cada vez mais. Apenas para dar um exemplo, não se percebe o tratamento que nos é dado nas portagens sem a criação de alternativas de mobilidade, tendo em conta o nosso poder de compra mais baixo do que a média nacional. A JSD quer o fim das portagens nas ex-SCUT, desenhadas sem custos, e, muitas vezes, substituindo troços de outras vias que poderiam ser hoje alternativas.

P – Acha que os jovens já são devidamente valorizados nos partidos? E no PSD?
R – A luta pela afirmação dos jovens na política é uma própria da democracia representativa. Tão válida como a representação proporcional com base no género, apenas com inferior importância histórica, até porque, como dizia um antigo líder da JSD, «é o único defeito que desaparece com a idade». Os jovens, com a sua irreverência, própria do vigor da idade, pensam o mundo para o amanhã. O amanhã em que querem constituir família, comprar casa e carro, progredir na carreira profissional e académica. Quando puros no espírito, são verdadeiros estadistas, algo precipitados, mas com uma visão de futuro, algo que muitos dos mais velhos não querem reconhecer. O bom na política é conjugar a irreverência juvenil à sensatez dos anciãos. Considero que muitos dos mais velhos apostam na juventude para se poderem reinventar no pensamento, outros deitam-na abaixo porque faz sombra. É por isso que muitos dos apaixonados pelo serviço público, em todos os partidos, abandonam a política partidária, pois vão sendo convidados a sair à medida que a sua voz aumenta.

P – Como está a JSD neste momento em termos de militantes? Tem havido menos novas filiações, ou nem por isso?
R – A JSD Distrital da Guarda, nos últimos dois mandatos, um liderado por Ricardo Morgado e outro por Fernando Melo, dos quais fiz parte como secretário-geral adjunto e como secretário-geral, respetivamente, pautaram-se pela defesa da coesão territorial e pelo aumento da base da estrutura. A motivação gerada por uma luta contra as desigualdades territoriais e o desequilíbrio entre o interior e o litoral do país mobilizaram militantes e não militantes, o que levou à reativação de todas as estruturas concelhias e consequente aumento do número de militantes nestes últimos quatro anos. Esse aumento é traduzido no número de delegados que a Distrital da JSD da Guarda leva ao próximo congresso nacional, sendo uma das maiores distritais do interior do país, o que nos leva a acreditar que, caso não sofrêssemos do problema da desigualdade territorial e da desproporção populacional, seríamos uma das maiores estruturas distritais da JSD do país. Podemos afirmar que, com o aproximar das eleições autárquicas e com a disponibilidade total do partido para ouvir os jovens, muitos serão os que voluntariamente e sem amarras se filiarão na JSD e no PSD.

P – Está preocupado com o que se está a passar na Guarda com a retirada de pelouros a Sérgio Costa?
R – Como residente nesta cidade e como presidente da Distrital da JSD, mentir-lhe-ia se dissesse que não estou. Sei do trabalho executado pelo eng. Sérgio Costa, enquanto vereador e posteriormente como vice-presidente do município, e posso garantir que foi dos melhores quadros políticos que passou no executivo da Câmara da Guarda. As condições do seu afastamento são-me desconhecidas, mas, no meu entender, acredito que o Dr. Carlos Monteiro tenha a liderança e a força necessária para a continuação dos bons destinos do concelho da Guarda. Ninguém é insubstituível, muito menos num grande partido como o PSD. Espero que as razões do afastamento entre ambos possam ser minimizadas com o sentido de companheirismo, próprio dos militantes do PSD. Espero que ambos possam esclarecer os militantes em sede própria, quer a nível concelhio, quer a nível distrital, pois ambos representam o partido nos cargos que ocupam na autarquia e espero que possam esclarecer todos os cidadãos, pois estes confiaram ao PPD/PSD os destinos do concelho.

P – Também é adepto de uma lista de consenso para a Distrital, ou acha necessário haver alternativas?
R – Consensos fazem-se ouvindo, dialogando e construindo pontes. Sabendo que não se consegue agradar a gregos e a troianos, o consenso é construído na base da tolerância. Não é por se afirmar que é uma lista de consenso, mesmo sendo única, que passa a ser consensual. Não é por três ou quatro pessoas firmarem consensos que este passa a existir, passando para segundo plano todas as bases de um grande partido como o PSD. Aquilo que é pretendido com o próximo ato eleitoral é um projeto, para o distrito e para o interior. A Distrital precisa de novas ideias, não precisa de caciques. O distrito da Guarda não precisa de joguinhos políticos, precisa de voz. Havendo consenso ou disputa eleitoral, no fim do dia eu quero um PSD forte e arejado. Quero um PSD que seja uma casa de debate e de pensamento político.

Perfil de Luís Soares:

Presidente da Comissão Política Distrital da JSD da Guarda

Idade: 26 anos

Naturalidade: Sameiro (Manteigas)

Profissão: Bancário

Nota curricular: A concluir o mestrado em Ciência Política na Universidade da Beira Interior; licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais pela UBI; vice-presidente do Grupo Desportivo de Sameiro; membro da Assembleia de Freguesia de Sameiro, tesoureiro da Comissão Política do PSD de Manteigas e presidente da JSD de Manteigas

Livros preferidos: “A Cidade de Deus”, de Santo Agostinho; “1984”, de George Orwell e “Massa e Poder”, de Elias Canetti

Filme preferido: “Amazing Grace” (2006)

Sobre o autor

Jornal O Interior

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