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“Vidas a Fio” recordadas nos Trinta

Peça de teatro documental percorre lugares da aldeia no sábado à noite

A aldeia dos Trinta regressa ao passado no sábado à noite. “Vidas a Fio”, a primeira produção do Grupo Experimental de Teatro Amador dos Trinta (G.R.E.T.A), é uma peça de teatro documental inspirada na memória colectiva daquela aldeia industrial do concelho da Guarda. Com autoria e encenação de Victor Amaral, este espectáculo não quer ser uma reconstituição histórica, mas antes uma visão episódica e ficcional de tempos idos e vividos pela pequena comunidade serrana. Um momento de cariz etnográfico de grande envolvência e emotividade, em que a aldeia volta a encontrar-se com acontecimentos, personagens e pedaços da vida individual e colectiva das gentes dos Trinta.

A peça desenrola-se em dois momentos. O primeiro, na Praça, evoca a importância da central eléctrica do Pateiro, construída em baldios da aldeia junto ao Mondego em 1897. Um acontecimento assinalado pelo toque a rebate dos sinos e uma festa em honra dessa misteriosa luz eléctrica. O povo – e os espectadores – segue depois em peregrinação até ao lugar do antigo Ribeiro da Lã, onde tem lugar o segundo e principal momento da peça. O palco é agora o espaço circundante ao antigo forno comunitário e as ruas confluentes. Neste cenário são invocados vários personagens típicos da aldeia. Ali surgem o austero feitor da fábrica têxtil, os trabalhadores, ligados por fios. Um quadro sombrio que contrasta com o duo pitoresco formado por um homem e o seu burro. É o Ti 15, carregador de lãs, desembaraçado de língua e boa disposição, que a concertina não deixa desmentir. As personagens que a memória colectiva convocou continuam a desfilar, caso do brincalhão, mas homem de sabedoria, Ti Arraesco. À primeira vista é o bobo da aldeia, no entanto, será através dele que ficamos a saber as aventuras e desventuras da comunidade, tudo condimentado com tiradas filosóficas sobre a vida. Vem depois a recordação da emigração, da saudade que guia esses dias longe da terra-mãe e os regressos estivais.

Estas são algumas das vidas tecidas neste espectáculo, que é uma homenagem à vida simples e corajosa de quem fez a pequena história colectiva dos Trinta. “Vidas a Fio” é uma produção do G.R.E.T.A, núcleo teatral da Associação Juvenil – Raiz de Trinta, que contou com o apoio da Câmara da Guarda, no âmbito do “Projecto Emergências”, e do Aquilo-Teatro, entre outros. A banda sonora, trabalho vídeo e desenho de luz são de Luís Andrade, enquanto a interpretação fica a cargo de André Pinto, António Gonçalves, Carlos Fonseca, Daniel Fonseca, Joana Pina, Rita Correia, Rita Silva, Sandra Gonçalves e Tiago Fernandes. A peça conta ainda com a participação especial, na voz de uma canção, de Alfredo Almeida, Bárbara Pinto, Carlos Fonseca, Lídia Vieira e São Galinho. Para a base escrita do texto, Victor Amaral contou com os testemunhos de Basílio Fonseca, Idalina Fernandes, Manuel Rodrigues e São Galinho. Já a construção da estrutura de ferro, que simboliza a central do Pateiro, foi assegurada por Alberto Fonseca e Daniel Fonseca. Participam ainda no projecto Andreia Almeida, Celso Correia, Davide Morgado, Marina Santos, Telma Antunes, Vanessa Antunes, Vera Almeida e Vera Lucas.

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