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C de cultura, T de teatro, E de Espectáculos, M de massas, F de Festas, G de Guarda

A cultura de massas define-se como universo de formas culturais seleccionadas, interpretadas pela indústria cultural e meios de comunicação de massas, para disseminação junto do maior público possível (in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

A cultura não é obrigatoriamente elitista ou enfadonha. Nem deve servir a sociedade que a procura apenas para dizer que também lá esteve.

Um espectáculo de teatro, por exemplo, pode servir para abrir novos horizontes ou pensamentos ou para alertar, mas pode igualmente divertir, permitindo relaxar ou descontrair, será sempre arte, será sempre cultura, seja experimental, moderno ou clássico.

Para assistir a um espectáculo da Adriana Calcanhoto desloco-me a Montemor-o-Velho, para ver uma peça de teatro “light” como “A partilha” desloco-me à Figueira da Foz, faço o mesmo se quiser ver e ouvir Pedro Abrunhosa, Marisa ou Da Weasel. Mas se me deslocar a Braga posso assistir a um recital de ópera ao ar livre. Encontro espectáculos de rua ou em auditórios desde Viana do Castelo a Faro.

Nesta época do ano podemos encontrar razões suficientes para desligar a televisão e procurar o divertimento ou o relaxamento em qualquer canto deste país, seja em cidades, vilas ou aldeias, excepto na Guarda.

A cidade está triste, em contraponto com as aldeias e vilas que a rodeiam.

Recebo regularmente as agendas do Teatro Municipal da Guarda (TMG) e do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz (CAE). As diferenças são dignas de registo.

O TMG tem condições para ser a sala de espectáculos de referência no distrito ou mesmo ter a ambição de o ultrapassar. Será que o consegue?

Foi excelente a programação do primeiro trimestre com ballet, dança, ópera, teatro e jazz. Durante o mês de Julho e Agosto o Grande Auditório funciona apenas duas vezes com música e teatro instrumental. Setembro poderá ser melhor.

Mas a questão que se coloca é que eu acabei de expressar o meu agrado e incluo-me nos cinco a dez por cento da população que estiveram presentes em alguns dos espectáculos (excluo os ateliers). E os outros trinta e tal mil habitantes?

Será que, nesta altura do ano, quem nos visita (que não só os emigrantes, mas também) ou quem por cá fica não gostaria de ver mais ou outros espectáculos?

Provavelmente o TMG vai manter uma programação desinteressante para a maioria da população, com laivos de cultura, em alguns casos experimental e/ou elitista, com cabimento apenas em pequenos estúdios e em grandes cidades.

Provavelmente o investimento no TMG, retirou a possibilidade de animar as ruas da cidade ou de apresentar espectáculos mais abrangentes dos gostos e da cultura de massas.

Tenho saudades de alguns teatros de rua ou dos concertos ao ar livre que em determinada altura animaram a cidade nesta época do ano. E não devo estar só, nesta sensação bem portuguesa.

P.S.: Já que escrevi sobre o TMG apenas três questões:

Porquê denominar uma casa de artes diversas e espectáculos variados apenas de Teatro?

Porquê incluir no parque de estacionamento um acesso acanhado e uma área de desportos radicais, como a rampa entre pisos? Já agora, qual a percentagem de inclinação?

Será que no Inverno chuvoso não se tornará espinhosa a tarefa de chegar aos auditórios e pior a de sair?

Por: João Correia

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