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Viagem pela guitarra portuguesa

Pedro Caldeira Cabral interpreta no auditório municipal da Guarda cinco séculos de um instrumento central no fado

Pedro Caldeira Cabral é esta noite o cicerone pelas memórias da guitarra portuguesa. No concerto agendado para o auditório municipal da Guarda, o músico e compositor propõe um programa de grande amplitude cronológica em torno de um instrumento que é peça central na tradição do fado, revelando ainda a sua utilização na música erudita, uma faceta menos conhecida.

Trata-se de uma viagem musical de cinco séculos, com alguns dos exemplos mais representativos do reportório da guitarra portuguesa. Pedro Caldeira Cabral começa nas danças renascentistas de Alexandre de Aguiar (c.1520-1578) e do grande Luis de Milán (c.1500-1560), passa pelo universo barroco com obras de Sylvius Leopold Weiss (1686-1750) e Carlos Seixas (1704-1742) e não esquece o inconfundível mestre Carlos Paredes, presente através de algumas das suas obras mais marcantes. O concerto termina com um pequeno grupo de composições do próprio Pedro Caldeira Cabral, acompanhado neste recital por Joaquim António Silva (viola). O instrumento a que damos hoje o nome de guitarra portuguesa foi conhecido até ao século XIX em toda a Europa sob vários nomes (cítara em Portugal e Espanha). Tendo como origem directa a cítara europeia do Renascimento, por sua vez filiada na cítola medieval, a actual guitarra portuguesa sofreu importantes modificações técnicas no último século (nas dimensões, no sistema mecânico de afinação, etc.), mas conservou a afinação peculiar das cítaras, igual número de cordas e a técnica de dedilho própria deste género de instrumentos.

Em Portugal, o seu uso está documentado desde o século XIII (cítola), nas mãos de trovadores e menestréis, e no século XVI (cítara), estando de início confinado aos círculos da côrte. Terá sido posteriormente alargado a meios populares, havendo referências à utilização da cítara no teatro, nas tabernas e barbearias, sobretudo nos séculos XVII e XVIII. Desse período, são conhecidos vários livros com repertório erudito para a cítara, sabendo-se mesmo que Ribeiro Sanches recebeu lições de cítara na Guarda, conforme o próprio revela em carta ao pai, pedindo dinheiro para pagar as lições ao seu mestre. Contudo, a grande revitalização popular da cítara acontece no final do século XIX através da sua associação ao fado de Lisboa. Pedro Caldeira Cabral desenvolveu, como compositor, um estilo próprio fundado na tradição solística da guitarra portuguesa, com incorporação de técnicas originais e elementos resultantes do estudo dos instrumentos antigos das tradições cultas e populares da Europa Mediterrânica. Como intérprete tem alargado o reportório solístico da guitarra, fazendo transcrições de obras de Bach, Weiss, Scarlatti, Seixas, entre outros, e apresentando publicamente novas obras originais de autores contemporâneos.

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