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«Vamos manter a mesma filosofia de equipa»

Cara a Cara – Entrevista

P-Como é estar de regresso ao Teatro das Beiras?

R-É reencontrar uma região que eu amo, onde vivi os melhores tempos da minha vida, que é exactamente a infância e uma parte da juventude. Vivi aqui até aos 17 anos e em 1994 a direcção do GICC desafiou-me a lançar o projecto da primeira equipa profissional de teatro da Beira Interior. Até 2003, tive funções ligadas à gestão artística. Entretanto, verificaram-se condições para que eu pudesse retomar essa responsabilidade e cá estou para gerir a programação 2004-2005. Posso dizer que estou satisfeito pelo facto da companhia me ter convidado para retomar essas funções. Acho que o Teatro das Beiras ainda poderá ter alguma utilidade para este projecto e enquanto eu sentir isso vou participar. A vida das companhias de teatro é tão difícil em Portugal que é um absurdo achar que as coisas podem ser feitas de uma forma solitária. O teatro é um exercício de equipa e durante nove anos sempre trabalhei com essa filosofia, que, de resto, é a mesma que vou utilizar agora para tentar manter as pessoas entusiasmadas com o trabalho e executar as bases programáticas do que foi este projecto, que vamos continuar sempre na procura de sermos melhores naquilo que fazemos e ajudar os outros a serem melhores. O nosso teatro pretende ser uma proposta de reflexão humana e sobre o mundo.

P-Que condições existiram para regressar ao Teatro das Beiras?

R-São as necessárias para que uma equipa possa funcionar: que exista essa mesma equipa e a clarificação da decisão do Ministério da Cultura apoiar este projecto. Não faria sentido continuar se o Estado não mostrasse interesse na sobrevivência desta companhia.

P-Vai continuar no Cendrev – Centro Dramático de Évora?

R-A minha relação com o Cendrev é afectiva. É uma relação antiquíssima e apaixonada, tal como tenho com o Teatro das Beiras do ponto de vista de responsabilidades e de tarefas a executar.

P-Pressupõe algum tipo de cooperação entre estas duas companhias?

R-Institucionalmente não, mas essa cooperação sempre existiu. O Cendrev é a mais antiga companhia de descentralização portuguesa e tem uma história de 30 anos de teatro profissional e de formação de actores. Daí que a relação entre o Cendrev e outras companhias tenha sempre uma prática.

P-Qual a sua opinião acerca da “crise” que o Teatro das Beiras sentiu há uns meses atrás?

R-Tenho uma opinião pessoal que não acho relevante, nem interessante, divulgar para o público em geral. São reflexões próprias que pretendo não repartir, até porque acho que não é isso que o público espera de uma companhia de teatro. O público não está à espera dos incidentes nem das convulsões dentro de uma estrutura, mas está ansioso para ver o espectáculo e é para isso que existimos. E a companhia já deu provas da capacidade de trabalhar, como se pode verificar com o último trabalho “Crónicas”. O que importa é ter público nos espectáculos.

P-Mas acha que a companhia saiu mais reforçada?

R-Não vou responder, porque senão seria juiz em causa própria. Não tenho esse atrevimento nem o direito de analisar dessa maneira. Tive muito gosto e prazer em trabalhar cá durante aqueles nove anos e tenho imensa pena que alguns actores da companhia tenham saído daquela forma. É isso que lamento. São amigos meus e foi com eles que ajudei a criar uma imagem para esta companhia. Mas a vida tem destas coisas: uns partem, outros ficam e outros regressam.

P-Como vai ser o Teatro das Beiras na próxima temporada?

R-O espectáculo “Crónicas” vai continuar na temporada 2004-2005. Correu tão bem que a única coisa que posso desejar é que a próxima temporada esteja também a esse nível.

P-Mas poderemos esperar mais três novas produções?

R-Sim. Mas iremos apresentar oficialmente a nova temporada em Janeiro.

P-E já tem perspectivas para o novo elenco?

R-A companhia tem um elenco. É o elenco do espectáculo “Crónicas”, reforçado com outros actores. O teatro é feito dessa rotatividade, embora defenda que as companhias devem ter um elenco mínimo fixo para garantir ao actor alguma estabilidade a curto e médio prazo. Não sou muito a favor das contratações à peça. Prefiro que se estabeleçam relações de entreajuda, de afecto, de camaradagem e solidariedade e o teatro é o espaço certo para essas práticas.

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