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Vale do Côa com visitas nocturnas e de barco no Verão

Parque Arqueológico vai abrir centro de interpretação em Cidadelhe e noutras freguesias limítrofes

O Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) pretende criar novos centros de interpretação e recepção para divulgar a arte rupestre, à semelhança dos que já existem em Castelo Melhor e Muxagata. Para já vai concretizar-se um «projecto antigo» para Cidadelhe, no concelho de Pinhel, numa data ainda por definir, «mas outras freguesias seguirão», garante Alexandra Cerveira Lima, directora do PAVC. É um passo importante para reconciliar as populações com as gravuras rupestres e novas portas de entrada na paisagem mística do Vale do Côa.

O centro de interpretação de Cidadelhe estava a ser levado a cabo pela autarquia, pelo que o parque comprometeu-se a colaborar na sua realização. As obras de recuperação de um edifício estão quase concluídas e, a partir de Junho, uma arquitecta vai começar «a trabalhar no projecto», assegura Alexandra Cerveira Lima. Quanto a prazos para a conclusão do centro, a directora prefere não adiantar datas, assumindo no entanto que há «todo o interesse» em que esteja aberto ao público no Verão. A ideia é valorizar “a porta Sul” do parque arqueológico, dando a conhecer a arte rupestre da Faia, sítio que ainda é de difícil acesso. Trata-se de um núcleo importante de pinturas rupestres que deverão ficar visitáveis até lá. Segundo a directora, existem já algumas empresas interessadas em proporcionar percursos com vertente de expedição. Por outro lado, o PAVC tenciona instalar, «a médio prazo», mais centros de interpretação noutras freguesias limítrofes do parque, «para que sejam criados vários pólos de interesse». A ideia é promover novas formas de contacto, pois «é importante levar as pessoas a todos os núcleos», sublinha Alexandra Cerveira Lima, lembrando que há «espaços de arte do paleolítico paradigmáticos em todo o Vale do Côa..

Tal como “O Interior” já tinha noticiado em Março, em vista está também a promoção de visitas de barco pelo parque. Neste momento ainda estão a ser acertados «alguns pormenores relacionados com a comunicação», explica a directora do PAVC, mas que «devem ficar resolvidos ainda esta semana», acrescenta. Se assim for, estes passeios pelo Vale do Côa não visível por terra poderão ser uma realidade este Verão, até porque já foi feita a visita experimental para testar o percurso de barco e medir a duração do passeio. Ou seja, «para “limar todas as arestas”», explica Alexandra Cerveira Lima. Esta proposta de descoberta das gravuras deverá ocupar um dia inteiro, porque vai abranger os dois núcleos principais e ainda um novo local, que dispõe de uma «boa visibilidade a partir do rio», revela. Nesse sentido, este será o módulo mais longo de visitas ao parque arqueológico, uma vez que o actual regime tem a duração média de hora e meia. O circuito deverá incluir almoço, no barco ou em terra. Outra novidade são as visitas nocturnas às gravuras rupestres, uma valência que começará a partir de Junho e vai até Agosto. «Como a arte é estudada à noite, faz todo o sentido dar esta oportunidade aos visitantes. E como já havia alguns pretendentes surgiu esta ideia», refere Alexandra Cerveira Lima, que revela haver mais novos percursos em estudo pelos guias do parque e que deverão ficar disponíveis ao público ainda este ano. Por outro lado, também está a ser ponderada a abertura, em breve, de novos núcleos de arte rupestre, nomeadamente na Quinta do Fariseu. As marcações para os circuitos devem ser efectuadas através do PAVC, inclusive para o passeio de barco.

Santuário do Côa nos “Itinerários de Fé”

Antropólogos acreditam que as gravuras de animais tinham motivações mágicas e religiosas

Foi lançado na passada segunda-feira um livro sobre turismo religioso e os locais sagrados no mundo, intitulado “Itinerários de Fé – Locais Sagrados das Religiosidades”, que, em Portugal, inclui o Vale do Côa e Fátima. A obra foi escrita em co-autoria por Paulo Mendes Pinto, professor de História da Faculdade de Letras de Lisboa, e Francisco Moura, especialista em turismo religioso.

António Martinho Baptista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART), ainda não conhece a obra mas não ficou surpreendido com esta inclusão do Vale do Côa . Até recordou, de imediato, uma frase de um antigo ministro do Governo de Cavaco que disse na altura da polémica das gravuras versus barragem: «Santuários em Portugal? Só conhecia o de Fátima!». Aliás, santuário «é um termo muito utilizado na arqueologia, mas entre aspas», até quando se referem às grutas, destaca António Martinho Baptista. «Pessoalmente, sempre vi o Vale do Côa como um grande santuário paleolítico a céu aberto», acrescenta. É que os antropólogos acreditam que as gravuras de animais feitas na rocha pelos homens do período Paleolítico e da Idade do Ferro tinham motivações mágicas e religiosas. E disso o director do CNART não tem dúvidas: «Muitas das gravuras pintadas têm significados simbólicos e sagrados», acrescenta.

A obra revela a importância de santuários na Europa, África, Médio Oriente, Oceânia, Ásia e América, mostrando tanto os locais sagrados pré-históricos como os mais recentes na História da espiritualidade humana. No capítulo da Europa, Portugal surge representado por Fátima, onde três pastorinhos tiveram visões de Nossa Senhora, dando origem a um santuário que atrai anualmente milhares de cristãos; e pelo Vale do Côa. O santuário rupestre do Côa, com centenas de gravuras ao ar livre, só foi descoberto em 1992, mas, devido à sua importância, foi pouco depois classificado como Património Mundial pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). De acordo com Eduardo Carvalho, da editora Media Livros, «a obra pretende funcionar como um guia de consulta com a vertente histórica das religiões e o turismo religioso, que movimenta anualmente milhões de peregrinos».

Patrícia Correia

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