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Umbra

Todo o ser humano só se considera de perfeita saúde se o estiver também do ponto de vista mental. Esse equilíbrio é cada vez mais difícil devido às vicissitudes de um quotidiano cada vez mais inimigo do indivíduo, que se vê perante uma sociedade egoísta, virada para os números e para o material, onde o que interessa é a satisfação de necessidades criadas pelos media. O “ter”, o quanto mais melhor; a casa, o carro, as férias em Cancun, o Iphone, a tv Led, a roupa de marca, etc. Mas a bolha consumista rebentou e caiu-nos a troika em cima e a maldita austeridade, e em consequência a saúde mental de muitos entrou em modo depressivo.

O novo documentário “Umbra”, de Pedro Renca, enfermeiro especialista em Saúde Mental e Psiquiatria da ULS Guarda, (a que tive o privilégio de assistir, embora ainda em versão Beta), conta a história real de uma relação de afetos entre Umbra, uma égua de raça frísio com três anos, e uma pessoa, Rute.

À Umbra foi-lhe diagnosticado um tumor sarcóide que teve que ser removido. No entanto, o problema de Umbra influenciou o estado emocional de Rute (sua cuidadora) desde que se lhe diagnosticou o tumor. Agora, ambas recuperam deste problema numa simbiose perfeita e Pedro captou muitos desses momentos.

O que Pedro fez de forma soberba, com a colaboração de Jorge Pelicano, foi retratar a “química” entre ambas num lugar natural, simples, genuíno, quase “selvagem”, num quotidiano em que nada é fictício naquele relacionamento equilibrador para ambas.

O filme é um instantâneo onde fica guardado “aquele tempo”, porque é ali que tem de ficar, entre Rute e Umbra. Naquele toque, naquela conversa, naquela gargalhada de Rute e na elegância de Umbra.

“Fazes-me tanta falta!”. Umbra faz-lhe falta, porque é só com ela que Rute encontra a paz de espírito e o equilíbrio emocional de que necessita, mas se a égua pudesse falar dir-lhe-ia o mesmo, pois é indubitável que a presença de um humano que a acarinha é fundamental para a sua recuperação.

Em conversa acerca do seu filme, com este meu amigo, com o qual tenho o prazer de pedalar de vez em quando, ele referiu-me que, realizá-lo, consciencializou-o ainda mais acerca da necessidade de vivermos, dando mais importância às pessoas que nos rodeiam, e de não termos medo de exteriorizar o que sentimos num mundo repleto de “razões matemáticas”. Percebeu a necessidade de darmos mais relevo a momentos genuínos e simples e da enorme necessidade de nos relacionarmos com alguém.

Tendo ele escapado recentemente a uma doença súbita, passou a encarar os acontecimentos da vida, que nos colocam mental e fisicamente em posições delicadas, com a toda a naturalidade.

Referiu-se ao paradigma das sociedades modernas onde é humana a necessidade de pertença a uma comunidade e, no entanto, as pessoas estão cada vez mais isoladas e presas em redes virtuais com centenas de “amigos”, no entanto, muitas vivem numa imensa solidão.

Da obra fica um contraditório de sensações. Uma força enorme demonstrada pela Umbra ao tentar dar um novo “sopro” de energia, autoestima e confiança a Rute, mas também uma enorme sensibilidade e dependência emocional naquele relacionamento. Tal como um relacionamento entre uma mãe e uma filha, Rute tem necessidade de estar presente junto de Umbra, e esta junto da sua cuidadora, num processo de recuperação ainda a decorrer. Umbra dá “tudo” à sua fiel amiga, mas Rute percebe que, se algum dia ela lhe faltar e tiver de partir, ficará “sozinha” ali, naquele lugar que é mágico para elas.

“Fazes-me falta… Fazes-me tanta falta!”.

Definitivamente, a não perder! Estreia na Guarda no início de 2016.

Por: José Carlos Lopes

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