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Uma nova Europa?

Crónica Política

Nas últimas semanas fomos ouvindo as mais variadas explicações e análises ao fenómeno Syriza, desde aqueles que defendiam que os resultados finais acabariam por ser diferentes das sondagens, até aos que garantiam que a extrema-esquerda grega conseguiria a maioria absoluta e fazer, assim, implodir a Europa.

Com tantas variantes, confesso que não percebo como é que a Comunidade Europeia, e em especial a Alemanha, permitiu que o primeiro-ministro grego Samaras provocasse eleições antecipadas. Provavelmente pensaram que os gregos não tinham coragem de dar a vitória a um partido que vai claramente contra a “troika” e as politicas emanadas de Berlim.

A verdade é que o Syriza ganhou mesmo as eleições, não com a maioria absoluta por eles desejada (ficaram a 2 deputados), mas com uma maioria confortável que lhes permitiu escolher os parceiros de coligação, neste caso o partido eurocético de direita “Gregos independentes”. Se à primeira vista esta coligação parece um contrassenso, pelo facto de um partido ser de esquerda e outro de direita, a verdade é que ambos estiveram contra o resgate financeiro, ambos são contra a “troika” e ambos refutam o modelo económico defendido até aqui.

E agora?

O Syriza herda um país à beira do precipício a viver uma situação caótica, com uma população empobrecida que muitos já apelidam de crise humanitária, uma dívida enorme e uma economia tremendamente fragilizada. Facilmente percebemos que Alexis Tsipras tem pela frente uma tarefa enorme, mais ainda quando assume que não vai seguir as ordens vindas desde Berlim e que quer ter uma atitude proativa na resolução dos problemas.

Para conseguir implementar as medidas necessárias, Tsipras terá de encetar uma longa negociação e como em qualquer negociação todas as partes vão ter de ceder algo.

Neste contexto, o novo primeiro-ministro grego sabe que precisa de aliados e não deixará de os procurar junto dos países que sofrem dos mesmos males, nomeadamente nos países do Sul da Europa. Abre-se, pois, uma porta para que também estes países tenham uma palavra a dizer. Espero que Portugal não se limite apenas a ficar à espera, esta é a hora de os líderes políticos destes países reiterarem que os seus cidadãos devem ter as mesmas condições de vida que qualquer outro europeu. Devem aproveitar para dizer basta a esta austeridade que apenas tem empobrecido ainda mais estes países e que tem vindo a torná-los ainda mais dependentes dos países mais desenvolvidos.

Mas se há uma conclusão que podemos tirar deste ato eleitoral é a de que, afinal, é possível pensar “fora da caixa”, é possível fazer propostas que vão de encontro aos anseios das populações, fora daquilo que muitos chamam de normalidade. Os agentes políticos que vivemos no interior do país devemos também ser capazes de pensar “fora da caixa” e fazer propostas que sejam, efetivamente, mais-valias para a nossa região. Cabe-nos mostrar que não precisamos de um Syriza, que temos capacidade de pensar e propor diferente.

Confesso que ainda não sei responder se o fenómeno Syriza vai ser bom ou não, tenho muitas expectativas e acompanharei o desenrolar dos acontecimentos com muita atenção.

Por: João Pedro Borges

* Presidente da concelhia da Guarda do PS

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