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Um sapato que dá nas vistas

Geuaninha DR4 é protótipo do Externato Secundário do Soito na Shell Eco-Marathon

Um «elegante, requintado e sensual» sapato de salto alto inspirou o mais recente protótipo com que o Externato Secundário do Soito, no Sabugal, vai participar este ano na edição da Shell Eco-Marathon. A competição, em que o objectivo é andar mais quilómetros com um mínimo de combustível, disputa-se durante o fim-de-semana no circuito francês de Nogaro, mas a equipa liderada por José Oliveira deixa essas performances para outros. O seu “campeonato” é única e exclusivamente o do design, área em que já conquistaram quatro prémios internacionais, sendo que o Geuaninha DR4 é o mais recente candidato a marcar a diferença no desafio ecológico francês.

A escola abandonou o tema dos animais em vias de extinção como inspiração para os seus modelos e virou-se para os primórdios dos acessórios utilizados na locomoção dos homens. O Geuaninha DR4, que herdou a mecânica dos antecessores Toirão e Libelinha, é assim a prova de que o design «é também reciclagem e recuperação de

determinadas formas e não só inovação», sustenta José Oliveira, para quem um sapato de salto alto tem as mesmas características de «elegância, requinte e sensualidade» que um automóvel. O resultado foi finalmente revelado no último sábado, na presença dos 14 alunos, cujas idades rondam os 12 anos, que trabalharam no protótipo mas apenas os aspectos relativos ao chassis e à carroçaria, este ano em fibra de vidro, pois as questões de mecânica «transcendem-nos por completo», justifica o designer. O carro, que pesa 33 quilos, será pilotado pela Vânia e pelo experiente Joel, que logo demonstrou as suas qualidades de condução no polidesportivo vizinho. Contudo, esta edição do Shell Eco-Marathon assinala uma passagem de testemunho, é que dos 14 alunos que viajam até França nove vão participar pela primeira vez. «É uma questão de ganharem experiência e continuarem para o ano», garante António Robalo, responsável pelo externato, para quem a equipa está motivada para «dar nas vistas» num desafio que vai juntar perto de três centenas de participantes.

De resto, a equipa do Soito é mesmo uma das mais mediáticas da competição dada a idade dos seus elementos e as novidades apresentadas anualmente. «Há sempre uma grande expectativa à nossa volta e um certo carinho», admite o professor, sem vaidade, acrescentando que a participação do externato custa cerca de 15 mil euros, apoiados em grande parte pela autarquia do Sabugal, Junta de Freguesia e empresas locais. Patrocínios cada vez mais difíceis de conseguir, garante. Tal como a concretização de uma das ideias de José Oliveira, que continua a sonhar com a criação de uma escola técnico-profissional no Soito para aproveitar o verdadeiro «ninho de inovação» que por ali germina. «Ideal seria uma ligação à UBI e ao IPG para criarmos uma escola de Mecânica Avançada que trabalhasse projectos de engenharia de raiz, em que a constante da prática será a componente mais importante», explica o designer. António Robalo corrobora e garante que o externato e José Oliveira andam há quatro anos «a tentar provar aquilo que as entidades responsáveis já se deviam ter apercebido de que efectivamente no Soito há qualquer coisa de inovador».

José Oliveira aproveitou ainda a sessão para apresentar o Ginete, carro do piloto belmontense Licínio Reis no Nacional de Kartcross, e o “Manual de um Designer”. Trata-se de um livro que ensina «de A a Z» todo o processo de construção de um protótipo em 180 páginas ilustradas por mais de 500 fotografias. «É uma obra didáctica que decorre do conceito de Clube Escola dos Pequenos Engenheiros que tentei criar há dois anos para ocupar os miúdos da região nos tempos livres», explica o autor, que ainda sonha em editar vários livros técnicos de design, metalomecânica e electromecânica. O manual, que também será apresentado em Nogaro, resultou da vontade de José Oliveira partilhar e mostrar o seu trabalho para que outros possam «fazer e materializar» as suas ideias. «Este método pode ajudar determinada criatividade. O que me levou a fazer este livro deve ser a mesma coisa que está na origem dos livros onde aprendi», confessa.

Luis Martins

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