Arquivo

Um quarteto de génios na Guarda

John Abercrombie Quartet e Maria João e Mário Laginha no Festival de Jazz da Guarda

O Festival de Jazz da Guarda entra na recta final com dois grandes concertos do John Abercrombie Quartet e de Maria João e Mário Laginha. O guitarrista norte-americano, acompanhado de mais três lendas vivas do jazz moderno, improvisa esta noite no auditório municipal num dos espectáculos mais aguardados desta edição dada a dimensão histórica do músico e o seu virtuosismo. Já o famosíssimo duo português, considerado por muitos como o “chefe de fila” do novo jazz nacional, sobe ao palco na quarta-feira. Duas propostas de grande nível que fecham o ciclo de concertos agendados este ano, uma vez que o festival continua até ao final do mês com sessões de vídeo, uma conferência e outra exposição.

O John Abercrombie Quartet, definido pelo próprio como uma formação de «música de improvisação de câmara, enraizada na tradição do jazz», é composto por quatro génios. Bastará a referência de nomes como John Abercrombie (guitarra), Mark Feldman (violino), Marc Johnson (baixo) e Joey Baron (bateria) para fazer sobressaltar qualquer apreciador mais atento. O quarteto iniciou a sua frutuosa colaboração no final do ano 2000 com o disco “Cat’n’Mouse”, constituindo-se hoje em dia como uma das bandas mais consistentes e criativas do momento. Um sucesso a que não será estranho o historial considerável e notável de cada músico, mas sobretudo a sua maestria técnica. A começar por John Abercrombie, considerado como um dos guitarristas mais influentes das décadas de 70/80 tanto na vertente eléctrica como acústica. Com uma carreira de mais de 40 anos e perto de 30 trabalhos discográficos editados enquanto líder e músico convidado, o guitarrista começou na banda do “bluesman” Johnny Hammond no início dos anos 60 e passou por formações lideradas por Billy Cobham, Gato Barbieri, Barry Miles ou Gil Evans, entre outros. Formou um dos mais brilhantes trios dos últimos anos com Jack DeJohnette e Dave Holland, tendo continuado a colaborar paralelamente com vários nomes sonantes do jazz.

Quanto a Mark Feldman, trata-se de um violonista virtuoso e multifacetado que tem no seu currículo gravações com John Zorn ou Ray Anderson, mas também Johnny Cash, Suzanne Vega e Sheryl Crow. Por outro lado, participou em grupos como Arcado String Trio, New and Used, Ned Rothenberg & Power Lines y Dave Douglas String Group. Já o baixista Marc Johnson pertenceu à banda do saxofonista Bill Evans, colaborando depois com Stan Gets, Al DiMeola ou Lee Konitz, entre muitos outros. Joey Baron é, por sua vez, considerado um dos melhores bateristas de todos os tempos, cuja vastíssima carreira é difícil de resumir em poucas linhas. De Tony Bennett, a Laurie Anderson, passando por Dizzy Gillespie, Stan Getz, John Zorn & Naked City, David Bowie e Elvis Costello, o baterista teve ainda tempo para criar várias formações. Na quarta-feira é a vez de Maria João e Mário Laginha regressarem à Guarda. O duo vive de uma invulgar cumplicidade que fica bem patente em cada espectáculo e nos seis álbuns editados: “Danças”, “Cor”, “Lobos, Raposas e Coiotes”, “Chorinho Feliz”, “Mumadji” e “Undercorvers”. Este último trabalho, editado em Novembro 2002, teve difusão internacional e foi aclamado pela crítica especializada. Entretanto, estas duas actividades são complementadas, no sábado, com a projecção do filme “O Garoto de Charlot”, musicado pelo contrabaixista Zé Eduardo e interpretado por um septeto de jovens músicos. Na terça-feira tem lugar a conferência de Rui Neves, especialista em jazz e programador do CCB e Gulbenkian, sobre as novas tendências do jazz contemporâneo. Ambas as iniciativas decorrem na Mediateca VIII Centenário.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply