Sabemos todos que as coisas não estão muito bem, e isto é evidentemente um eufemismo. Reparámos nos suicídios de banqueiros e grandes industriais, fomos avisados das falências que aí vêm e explicaram-nos que a diminuição da inflação e das taxas de juros, assim como do preço dos combustíveis, não são necessariamente boas notícias. Entretanto, para complicar um pouco mais as coisas, temos a caminho e em curso uma massa de ar polar muito fria, um gigantesco surto de gripe e uma nova guerra no médio-oriente. Não vale a pena continuarmos a enganar-nos: precisamos urgentemente, para ontem mesmo, de boas notícias. Não tenho muitas, mas tenho algumas.
Por muito que esta cidade me irrite, continuo a não me imaginar a viver noutro sítio (Lisboa, Nova Iorque, Évora, são para sonhos e fins-de-semana). Não caem aqui rockets, nem há ameaças de ataques terroristas. A criminalidade é residual, continuando a ser seguro sair à noite. O risco de inundações é irrisório, como o de tremores de terra ou o de deflagrar algum vulcão. O ar não é poluído (consequência, é verdade, da pouca indústria – mas é preferível respirar bem). Dirão que os bairros periféricos são medonhos de feios, e têm razão, mas já repararam na Catedral? Ou no Centro da cidade em geral e no centro histórico, como estão limpos e apresentáveis? E têm feito recentemente uma visita ao Museu?
Quero ainda recordar alguns aspectos que tornam esta cidade um pouco mais suportável e que transformam por exemplo os anos oitenta numa espécie de longa noite obscurantista. Antes de mais, há que assinalar a abertura de uma livraria e de cinco salas de cinema no Vivaci. Só isto já justificaria, para mim, o empreendimento. Depois, a constatação de que o TMG, só por si, começa a justificar vindas à cidade, de cada vez mais longe. Podem alguns, cada vez menos, não gostar da programação mas a verdade é que o TMG é uma referência de que a cidade se pode e deve orgulhar. Muito perto temos a Biblioteca Eduardo Lourenço, recentemente inaugurada. É um edifício notável, bem inserido numa das zonas mais bonitas da cidade. A biblioteca não pretende ser uma espécie de bibelô. Antes pelo contrário, vai ser utilizada e vai rapidamente ganhar adeptos. Tem condições para isso.
Não sei se é o melhor, mas guardo-o para o fim. Gosto de queijo. A fábrica de lacticínios do Mileu apresentou um novo queijo, premiado em Espanha, de leite de cabra (Quinta do Pontão). O queijo é notável: a medida exacta, e comedida, de sal, uma textura manteigosa, um sabor suave mas distinto. Ainda por cima, é barato. Pena que não seja fácil encontrá-lo.
E é tudo de boas notícias, pelo menos para já. Permito-me assinalar um detalhe: tudo isto da Guarda, de que me orgulho e que me ajuda a ser mais fácil viver aqui, tem um sinal distintivo bem forte, cada vez mais raro e cada vez mais valioso – a excelência.
Por: António Ferreira