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Um passeio…

Editorial

1. No próximo domingo será escolhido o novo Presidente da República, se Marcelo Rebelo de Sousa tiver mais de 50 por cento dos votos. Ou é escolhido o adversário de Marcelo na segunda volta. Duas semanas de campanha frouxa, com nove candidatos a falarem de um. E em que mais do que falar de Portugal, da Europa, da sociedade ou da cultura portuguesa, se falou das incoerências de Marcelo, das excitações de Marcelo ou das horas que dorme Marcelo… Em que António Costa “recomendou” o voto entre dois candidatos, se bem que só um é militante do partido; em que Maria de Belém viu como a sua vingançazinha segurista leva a que metade do PS esteja contra ela (a anterior presidente do PS); em que Nóvoa foi de menos a mais, mas, depois de anos a ouvirmos dizer que é preciso haver pessoas novas e de fora dos partidos na política, a principal crítica que se faz ao antigo reitor da Universidade de Lisboa é o facto de não ter passado (político) e não estar comprometido partidariamente; em que Sampaio da Nóvoa ganha espaço e ganha futuro, ainda que perca o presente; e em que Maria de Belém manteve por perto os amigos mas longe a maioria dos socialistas e ainda mais longe o país.

A estratégia de Marcelo Rebelo de Sousa foi muito bem definida pelo próprio que cedo percebeu que para chegar a Belém teria de conquistar o centro (que Passos Coelho perdeu ou abandonou) e ir buscar alguns votos no centro-esquerda. Foi o que fez. É aí que se ganham eleições…

Para a segunda volta (pouco provável) fica a possibilidade de Nóvoa conquistar o apoio unânime da esquerda, que poderá não chegar para apear Marcelo (a sondagem de terça-feira do “Diário de Notícias” dá vitória ao candidato da direita – ou da esquerda da direita – com 62 por cento (!!), contra 15 por cento de Sampaio da Nóvoa e 14 de Maria de Belém).

2. A um outro nível, e perante a desilusão dos comunistas com o candidato Edgar Silva e a fraca adesão a Henrique Neto, a bloquista Marisa Matias, mesmo sem conseguir capitalizar o eleitorado do BE, não vai ganhar, mas já ganhou a enorme admiração de muitos e muitos portugueses. A sondagem do DN dá-lhe uns míseros três por cento, mas a sua irreverência, o seu entusiasmo, a sua frescura de candidata do século XXI são o melhor que esta campanha deu. Enquanto outros dizem as mesmas coisas que se diziam há 10 ou 20 ou 30 anos, como comentou um amigo, a «moça simples», de uma aldeia de Condeixa, que «palmilhava cinco quilómetros por dia para ir à escola» e que aos 16 anos servia à mesa em Coimbra para pagar os estudos, «formou-se e doutorou-se», e é uma mulher comprometida com Portugal, com a Europa, com o mundo. E quando a ouvimos, vemos alguém completo, empenhado e inteiro – e «para ser grande, sê inteiro» (Fernando Pessoa). Este não é o tempo de Marisa, este ainda é o tempo de ideias ocas e velhas de políticos do séc. XX, mas essa mulher «inteira» deixa uma marca para o futuro que o cheiro a mofo pode esconder, mas que não subjugará nos próximos anos.

3. Faleceu segunda-feira à noite António Almeida Santos. «Um príncipe da Democracia», um príncipe da Serra da Estrela, natural da aldeia de Cabeça, concelho de Seia. Foi o primeiro presidente da Assembleia Municipal da Guarda, entre 1977 e 1985, e deputado pelo círculo da Guarda à Assembleia da República (de que foi presidente). Foi presidente do Partido Socialista de 1992 a 2011 e presidente Honorário do PS até à sua morte. Personalidade ímpar do nosso tempo e político maior da nossa região. A nossa singela homenagem.

Luis Baptista-Martins

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