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Banco de Portugal na mira dos maiores bancos do mundo

Os maiores bancos do mundo vão reunir-se hoje, ao meio-dia, em Londres, para avaliar o problema criado pelo Banco de Portugal nas obrigações do Novo Banco, confirma a Associação Internacional de Swaps e Derivados (ISDA, na sigla em inglês), com sede na capital britânica. Ontem, houve uma primeira reunião. Foi inconclusiva.

Segundo o “Diário de Notícias”, o encontro de urgência na ISDA pode decidir se há ou não um «evento de crédito» (incumprimento de obrigações) e se devem ser acionados os respetivos seguros para cobrir as perdas em que os “institucionais” entretanto incorreram ou vão incorrer.

Se sim, podem estar em risco de incumprimento não cinco, mas mais de 50 linhas obrigacionistas do Novo Banco no valor de 18 mil milhões de euros em dívida, na sequência da decisão «arbitrária» tomada pelo Banco de Portugal a 29 de dezembro último, revela Mark Gilbert, membro do conselho editorial da Bloomberg.

E diz mesmo que a solução encontrada pelo banco central é como uma «granada» sobre o «caótico» mercado obrigacionista do país. Se o pior cenário se materializar, tratar-se-á de um evento de crédito de grande magnitude. A associação, que representa o mercado de seguros contra perdas e incumprimento em ativos, reúne-se em sede de “comité de determinações”, confirma a instituição.

Este órgão consiste num grupo de 15 elementos (10 grandes bancos grossista e cinco gestoras de fundos, as retalhistas). Ao encontro vão os maiores do mundo da finança, como o Bank of America, Barclays Bank, BNP Paribas, Citibank, Crédit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Morgan Stanley e Nomura.

Além das instituições com direito a voto (o esquema de votação é rotativo) estarão ainda na sala o gigante japonês Mizuho, o francês Société Générale e fundos de gestão de capitais como Alliance-Bernstein, BlueMountain Capital, Citadel, Pimco, Cyrus Capital, Elliott Management.

A Pimco tem sido das instituições mais hostis e verbais neste caso, tendo atacado por várias vezes Portugal, a solução de Carlos Costa e levantado a hipótese de existir contágio a outros bancos do euro. Terá sido das mais penalizadas com a decisão de reverter as obrigações para BES.

A ISDA está a tentar perceber se este precedente português «conta como um evento de crédito». O analista da Bloomberg recorda que «o banco central português atirou o seu mercado de obrigações para uma confusão», que as cinco obrigações do Novo Banco valiam dois mil milhões de euros, mas que a decisão «destrói cerca de 80 por cento do valor dos ativos» ao enviá-las para o banco mau.

«Se assim for [se a ISDA concluir que há evento de crédito], os contratos de seguro sobre as obrigações, os chamados “credit-default swaps”, serão acionados e os detentores de obrigações podem receber os seus seguros», adianta. Se isso acontecer, Mark Gilbert acredita que «instalar-se-á o caos, de certeza», mas também pode acontecer que «consiga chamar o banco central à razão» e «persuadir o Banco de Portugal a reverter a decisão» de final de dezembro.

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