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Um “milagre” chamado hidroginástica

Angelina da Conceição da Cruz, de 74 anos, sai de Videmonte às sete da manhã para ter aulas nas piscinas da Guarda cinco horas depois

Apesar de não saber nadar e de apenas no ano passado ter entrado numa piscina pela primeira vez, Angelina da Conceição da Cruz parece tratar a água “por tu” em mais uma aula de hidroginástica. Esta “jovem” de 74 anos, de Videmonte, tem que fazer uma verdadeira “maratona” nos dois dias da semana em que vai até às Piscinas Municipais da Guarda. Apesar de sair da sua aldeia às sete da manhã e de só chegar a casa ao final da tarde, nunca faltou a uma aula, tal é a melhoria da sua forma física e a boa disposição que a ginástica na água lhe tem proporcionado.

Todas as terças e sextas-feiras, faça chuva ou faça sol, a senhora Angelina cumpre o ritual iniciado em Setembro de 2004. Sai de casa às sete da manhã para apanhar, um quarto de hora depois, o autocarro que a traz até à cidade. Aqui chegada, tem que ir a pé até ao complexo das piscinas para ter mais uma aula de hidroginástica, agendada apenas para as 12h30. Faz depois o caminho inverso, mas só tem autocarro às 17h15. Todo este esforço vale a pena porque «ando muito melhor dos meus ossos, visto-me melhor e passo melhor a noite e tudo. Se não andasse, não valia a pena. Não tenho posses para vir da minha terra, tenho que pagar o autocarro e ainda tenho que comprar medicamentos», explica Angelina da Conceição da Cruz. Adianta que começou a fazer hidroginástica em Setembro, por recomendação do médico, e porque «já não podia aguentar de maneira nenhuma com as dores que tinha nos ossos», garante. Desde então, a hidroginástica está-lhe a fazer bem e confessa que tem andado «muito melhor», pois já nem dormia, nem conseguia virar-se para o lado esquerdo. «Agora, já me posso mexer e até faço um tempo de sono», refere, entusiasmada. Aliás, até os medicamentos para as dores já ficam, por vezes, na gaveta.

«Já tenho dias em que nem tomo os remédios para as dores», admite a senhora Angelina, que não duvida que sem a hidroginástica «talvez já andasse numa cadeira de rodas» tantas eram as dores sofridas. Uma opção que não foi tomada de ânimo leve. É que a primeira vez que entrou numa piscina aconteceu no último Verão. «Mas tinha que ser», diz, sublinhando que este desafio também a «desenvolveu mais». E já nem o facto de brincarem com ela em Videmonte a incomoda: «Ninguém vai assim para as piscinas. Vão é para as termas. Mas eu não ligo nada a essas pessoas. O importante é sentir-me bem», reforça, confiante. De resto, revela que foi incentivada pelos filhos e noras para entrar na hidroginástica, mas confessa que não sabe nadar. «Safa-se melhor que algumas alunas mais novas, pois tem um à vontade muito grande dentro de água», realça a professora da hidro-sénior, uma turma preferencialmente para pessoas com mais de 65 anos. De resto, Alexandra Fonseca aconselha todos a prática da hidroginástica, embora garanta que os benefícios são «mais notórios» nas pessoas mais velhas, uma vez que «a atrofia também é cada vez maior».

E as vantagens são inúmeras. «Para além da parte postural, há benefícios na locomoção e mobilidade, sendo ainda uma boa forma de combater o stress. Como a maior parte deles está em casa durante o dia, o próprio convívio com os colegas e a motivação da aula ajuda-os em termos psicológicos a sentirem-se um pouco melhor», explica a professora. A hidroginástica baseia-se na realização de exercícios gímnicos dentro de água, normalmente feitos com o acompanhamento de música. «Consiste num trabalho aeróbio em que as pessoas desenvolvem a parte cardiovascular e a cardiorespiratória», resume Alexandra Fonseca. O que é certo é que, de ano para ano, a procura tem sido cada vez maior, não só por prescrição médica, mas também para quem quiser perder alguns “quilinhos” ou simplesmente pelo gosto da actividade física. Actualmente, existem quatro turmas de hidroginástica nas Piscinas Municipais da Guarda que movimentam cerca de 230 pessoas.

Ricardo Cordeiro

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