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Um dos maiores «incêndios dos últimos 20 anos» na Serra da Estrela

Chamas consumiram mais de três mil hectares de floresta durante três dias, na zona de Manteigas

O Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) foi vítima de um violento incêndio que consumiu mais de três mil hectares. O incêndio que deflagrou na noite de domingo, no local de Ribeira de Manteigas, apenas foi circunscrito pelas 20 horas de terça-feira, deixando atrás de si um rasto de destruição e horror. Fernando Matos, director do PNSE, garante mesmo que este é um dos «piores incêndios dos últimos 20 anos». Entretanto, o autarca de Manteigas, José Manuel Biscaia, já solicitou a declaração de situação de calamidade pública.

O incêndio começou no concelho de Manteigas no domingo à noite, mas as chamas alastraram até ao município vizinho da Covilhã, estando a ser combatido na tarde de terça-feira por mais de 250 bombeiros, 62 veículos e 11 meios aéreos. Na segunda-feira, o fogo lavrava em quatro frentes, Alto da Portela, Poço do Inferno, Poio de Olivais e Penhas Douradas, e, apesar de não terem sido registadas perdas humanas, arderam quatro casas, duas pertencentes a pastores, enquanto que as outras eram casas de férias. O plano municipal de emergência foi activado no final da noite de segunda-feira, tendo permitido um reforço substancial dos meios no terreno na terça-feira. José Manuel Biscaia garante que as pessoas que perderam bens materiais serão apoiadas «de acordo com a legislação em vigor». Na terça-feira à tarde, o autarca frisava que a Governadora Civil estava a acompanhar o incêndio «de perto». «Quando o alerta de incêndio foi dado não era previsível que o incêndio tomasse estas dimensões», disse Biscaia, alertando que «o fogo teve uma intervenção não natural». De resto, as condições atmosféricas adversas impediram um rápido controlo do incêndio. Solicitando a declaração de situação de calamidade pública, o edil manteiguense indica que a principal perda aconteceu na fauna e na flora da região. «As chamas atingiram uma área com biótipos e espécies raras, provocando um desastre ecológico», lamentou. Deste modo, o autarca alerta para a necessidade do Governo colaborar numa «rápida requalificação» do PNSE.

As chamas do incêndio, que deflagrou no domingo, destruíram mais de três mil hectares do PNSE, mas desde o início do ano já arderam dez mil, o que representa um total de 10 por cento da área protegida. Uma triste realidade que leva Fernando Matos a assumir que este foi «um dos piores incêndios dos últimos 20 anos», isto porque «se perderam muitos habitats e grande parte da reserva biogenética do Parque», frisa. Aquele responsável salienta que as «perdas foram enormes» e com «consequências negativas» para o PNSE. Matos explica a dimensão do incêndio com a «regra dos 30». Deste modo, juntaram-se as temperaturas superiores a 30 graus, com os 30 por cento de humidade, enquanto o vento soprava a mais de 30 quilómetros/hora. Além das más condições atmosféricas, o parque natural apresenta zonas sem acessos, devido às características próprias da Serra da Estrela. Fernando Matos considera que se devia pensar numa organização mais eficaz para ultrapassar os difíceis acessos à serra. No entanto, realça que apesar da eficácia dos meios poder ter sido maior, foram disponibilizados «os meios possíveis e necessários». Questionado sobre as razões de um incêndio desta dimensão acontecer num Parque Natural tão vigiado como o da Serra da Estrela, o director do PNSE não encontra resposta, «até porque o concelho de Manteigas é dos mais vigiados». Agora com o incêndio já circunscrito, Fernando Matos reforça a importância de se apostar na prevenção dos incêndios durante todo o ano, considerando «essencial» requalificar o PNSE. Mais a longo prazo, Fernando Matos considera que é necessário «mais trabalho de prevenção, boa gestão e ordenamento da floresta», até porque «a flora vai regenerar-se, mas a fauna é mais difícil».

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