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Um arrepio

Um cerrado descrédito é inerente à lista de Valente. E uma tal conclusão arrepia-me.

Quando o cartaz regista: ” A Guarda inspira-nos”, a mentira de tal sentença gera em nós um muito denso mal-estar. “A Guarda inspira-nos”!? Como, se o rosto do candidato ressuma medo!?

” A Guarda atemoriza-nos” é que lá devia estar, para que, falando popularmente, “a letra dissesse com a careta”. Ademais, duas entradas nas urgências do Hospital que provam senão isso? “Tal como azeite a verdade vem sempre ao de cima”. É do rifonário.

A revolta que, em Sintra, se sente contra um candidato já derrotado em Lisboa deve estar sempre, muito claramente, nos nossos espíritos.

Amo a Guarda e as pessoas bem o sabem – e de diversas maneiras.

Na Guarda há pessoas de olímpica grandeza ética, moral e relacional; e a última eloquente confirmação de tal foi-me dada pelo meu amigo Marcelo, de Fuentes de Oñoro, que, desde há pares de anos, me vende imprensa, livros, enciclopédias, colecções de História Universal…

Todavia, em certos dos seus aspectos, é uma cidade de Terceiro-Mundo – por obra do P”S”. O desassombrado e insuspeito Dr João Gomes referia-se-lhe como o “burgo”. “Só casas, só casas!! Pensaram eles[a Câmara] que uma cidade é um amontoado de casas!?” É obrigatório voltar a este tema.

Antes do 25 de Abril havia repressão, miopia cultural, miséria material, fundo provincianismo – mas não terceiro-mundismo. O urbanismo e a toponímia (anti-republicanismo à parte) aí estão a atestá-lo.

E vale a pena lembrar a cidade inteira contra a estátua do alferes Ferreira de Almeida.

Assim, os herdeiros da obra do P”S” deviam – ab initio – saber que quem se contenta com tretas, mentiras tão grosseiras, não pode esperar nenhum retorno credível. Aliás a entrevista à Rádio Altitude confirmou a impreparação, o medo. Mais. Sentem-se inspirados com os seus graves erros?! Refocilam com eles?! Pobres!!

Desde há pares de anos que ao nº 2 da lista, Virgílio Bento – como a uma série de amigos –, em Agosto, da Europa, envio um postal. Quando há c. 8 anos, foi eleito vereador, ao mesmo tempo que lhe dei os parabéns disse-lhe: “Mas agora és meu adversário”.

Enquanto deputado municipal, numa assembleia, um dia lancei-lhe um repto que era, salvo erro (a esta distância…), escrever um texto para a Praça Velha. Como não esteve à altura de algo tão simples, na sessão própria disse-lhe: ” Demita-se, Senhor Vereador!”. A verdade é um dom de Deus.

Bento nunca fez segredo em declarar que, para viver em Portugal, por exemplo Porto ou Braga. “Mas com dois garotos pequenos para onde é que um homem pode ir?”. Não me alongo. Como é que, agora, de há tempos a esta parte vem com loas à cidade!?

A sua afabilidade é consabida. E é um homem inteligente, um “ruminante”, idiossincrasia de filósofo. Perante isto curvo-me. Mas, porque sou seu amigo e julgo conhecer suficientemente bem o contexto só lhe posso dizer: Renuncie à lista Senhor actual Vereador!

Um filósofo é filósofo, um ser prospectivo, altivo, independente.

O amor pela cidade não é nenhuma abstracção ou oportunismo. É, isso sim, uma tangibilidade. E a tangibilidade está ao alcance de todos, seja o barbeiro, o motorista, o contínuo, o erudito…

Sim, o erudito. Com excepção do mandatário da lista, nenhum dos outros elementos alguma vez colaborou na “Praça Velha”. Aí sim, em trabalho absolutamente desinteressado – que leva dias – é que se vê o amor pela Comunidade. E é só um exemplo.

Curioso é que o indigitado Presidente da Assembleia Municipal, não obstante reiteradamente convidado a enviar colaboração, nunca sequer se dignou a responder.

E é precisamente pelo facto de homens – e amigos – com estes putativos horizontes nunca terem revelado amor pela Guarda – mas agora, nas autárquicas, o invocarem – que me arrepio todo.

Seja como for voltaremos ao assunto, pois há muito que dizer a este respeito. Também aqui é de Filosofia que se trata. Mas não só. Ainda por cima estas figuras dizem-se de esquerda. Ora, passando agora sobre tal dado, onde se lobriga a alegada (por eles…) generosidade e empenhamento? Um embuste não pode dar-se ares de respeitabilidade e, ademais, lembro apenas Hannah Arendt, majestosa, quando nunca se corrompeu pertencendo a um partido ou sendo conivente com uma ideologia.

Guarda 30-VII-05

N.A. – O artigo era para ter sido enviado da Europa nos inícios de Agosto. Infelizmente esqueci-me de levar o manuscrito, donde as minhas desculpas.

Por: J. A. Alves Ambrósio

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