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«UBI e politécnicos deveriam formar consórcios ou entidades federadas»

Para Veiga Simão, coordenador do estudo de reordenamento do ensino superior, esta era a única forma das instituições terem «uma voz mais forte» em Portugal e na Europa

«A Universidade da Beira Interior (UBI) e os Politécnicos da Guarda e de Castelo Branco deveriam formar aquilo a que se chama de consórcios ou entidades federadas com uma certa personalidade jurídica para não haver duplicação de cursos, nem desperdício de dinheiro», defendeu na semana passada na UBI Veiga Simão, coordenador do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para reestruturar a rede de ensino superior em Portugal.

O antigo secretário de Estado da Educação falava acerca do Ensino Superior, no âmbito do VII Congresso Nacional de Estudantes de Economia e Gestão, e disse acreditar que esta articulação entre as três instituições deveria ter sido uma aposta há vários anos para que «atingissem dimensões críticas de pessoal qualificado, investigação e desenvolvimento que lhes permitissem ter uma voz mais forte não só a nível nacional, mas europeu. Não sei porque ainda não fizeram isto», interrogou-se. Sem defender propriamente a integração dos Instituto Politécnicos da Guarda e Castelo Branco como pólos da UBI, Veiga Simão sugeriu a necessidade de se adoptar uma estratégia comum para evitar a multiplicação de cursos numa altura em que há cada vez menos candidatos ao ensino superior. E também para racionalizar os custos. «O problema não é de integração, mas de articulação», disse. Já para o reitor Santos Silva o problema reside na «falta de uma legislação que enquadre a cooperação que tem sido feita há bastante tempo entre a UBI e os politécnicos», lamenta.

«Europeízem-se»

Veiga Simão disse ainda que as instituições do interior só têm futuro se se «europeizarem e mundializarem». «Estas universidades do interior tinham como objectivo fundamental o desenvolvimento regional. Hoje, pela sua posição e pela natureza das coisas, podem ser pólos de atracção a nível da Europa», defendeu Veiga Simão – um dos impulsionadores da criação da UBI na década de 70 -, acreditando que se estas instituições oferecerem mais qualidade de vida e melhores condições podem ter «uma onda de alunos e professores estrangeiros a dar a isto um carácter mais europeu». Referindo-se ao estudo que elaborou, o antigo ministro da Educação defendeu ainda a existência de uma Agência de Acreditação e Avaliação dos organismos académicos como elemento fundamental para a promoção, garantia de qualidade e a procura da excelência, dando assim cumprimento aos princípios estabelecidos no Processo de Bolonha. Este novo sistema de avaliação deverá medir a qualidade do desempenho das instituições e dos professores com base na qualificação dos recursos humanos, a investigação realizada, a inovação, a ligação à comunidade, a cooperação internacional, aspectos financeiros e físicos (como os mecanismos de apoio social) e o sucesso escolar.

Se as universidades e os politécnicos não preencherem estes requisitos na avaliação externa e interna, um dos quais propõe que as universidades politécnicas a criar tenham cinco unidades de investigação com a classificação de Bom, a Agência deverá retirar a licença à instituição. «Ou temos coragem para isso ou não», acrescenta, aconselhando o Governo a «ter poder decisório» para que Portugal possa acompanhar a média de desenvolvimento europeu numa maior competitividade e crescimento económico sustentado. «A UBI está perto disso e tem possibilidade para atingir em dois ou três anos esses requisitos», disse. Para Santos Silva, «não falta nada à UBI, pois há muito que satisfaz esses requisitos». Exemplo disso é ter cerca de 50 por cento do corpo docente doutorado e mais 43 por cento em doutoramento. «Dentro de um ano ou dois teremos já cerca de 73 por cento de doutorados», reafirmou, admitindo que este «é mais um estudo que pode vir a ser de extrema utilidade para o Governo reflectir e tomar algumas decisões». Porque o que falta mesmo no ensino superior «é produzir legislação».

«Universidade de Viseu só terá espaço se for diferente»

Para o coordenador do estudo de reorganização do ensino superior, a futura universidade de Viseu que o Governo pretende criar «só terá espaço se adoptar um modelo de governação diferente» das existentes. «Se for para imitar, não deve ser criada», afirmou, tendo em conta o cenário da diminuição de alunos que o Ensino Superior enfrenta em cada ano e para evitar o erro «terrível» de multiplicar cursos. Assim, Veiga Simão defende a colaboração entre as Universidades de Viseu, Beira Interior e Coimbra sem no entanto especificar que tipo de parceria poderá ser criada entre estas três instituições. «Como coordenador de um grupo de trabalho, não devo exprimir ideias sobre os resultados, que só vão ser apresentados no fim de Novembro», justificou, adiantando, entretanto, que a parceria que preconiza entre as três instituições é no âmbito dos cursos de pós-graduação e de Ciências da Saúde.

Liliana Correia

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