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Turistas vêm, mas não ficam

A Guarda é local de passagem para os turistas estrangeiros

Passeiam, descontraídos, pelas ruas e ruelas da cidade, olham pasmados para os monumentos, calçam alpercatas e chinelas características e, na sua maioria, não abdicam da máquina fotográfica a tiracolo (analógica de preferência). Na Praça Velha “O Interior” conversou com alguns turistas. Brigit Westhauser, alemã de 51 anos, com um “hobbie” invejável: dedica-se às viagens quase a tempo inteiro – correr mundo é a sua forma de vida! – e já correu a Europa de lés a lés, numa autocaravana, quase sempre sozinha. Conheceu Portugal através de uma brochura turística e reservou duas semanas para vir a terras lusitanas. «Pareceu-me um lugar extraordinariamente calmo», explica, enquanto revela os encantos que a motivaram a visitar “este jardim à beira-mar plantado”. «Estava à procura de algo assim!». A viagem começou pelo norte do país e, recém-chegada de Trás-os-Montes, confidencia-nos a primeira impressão da cidade mais alta de Portugal: «È um lugar tão sossegado!». Brigit confessa que na Alemanha se ouve falar muito pouco da língua de Camões. Porém, a ideia que há muito formou sobre Portugal é que se trata de um país «pobre e cheio de mar». Foi seduzida pelas paisagens, pela cultura e, para já, quer aprender mais «sobre o Fado, a canção tradicional de Lisboa». Na Guarda, fascinou-a a arquitectura da Sé, «muito diferente de todas as catedrais que tenho visto na Europa», exclama. Porém, a alemã diz que sentiu dificuldade em orientar-se por cá. «Não existem muitas indicações para os turistas nas ruas e as obras, aqui nesta Praça, confundem-me um pouco», confessa. A permanência na Guarda, no entanto, vai ser curta. «Não tenciono, sequer, pernoitar por aqui, vou procurar uma aldeia na zona e depois sigo para Lisboa», conta.

Também de passagem Josiane Schaerer e Franz Förschl, um casal de jovens vindos da Alemanha, vão rumar para a costa, «conhecer as praias portuguesas», afirmam. Vieram de Espanha e, quando lhes perguntamos que ideia têm de Portugal, apressam-se em dizer que é «um país de mar, de marinheiros e um pequeno pedaço de terra entre Espanha e o Atlântico». Pouco depois, nas escadas da Sé, de máquina fotográfica em punho, estava Gouette Daniel, um francês de 55 anos. Diz que não encontra «grandes diferenças entre as gentes portuguesas e francesas», porque hoje se vive «num contexto europeu onde não existem grandes distâncias culturais». De Portugal sabe que «houve um tempo de fascismo, que se prolongou demasiado», mas acredita que hoje é um país «em grande desenvolvimento». Na Guarda, encontrou «gente acolhedora, piscinas excelentes, monumentos interessantes e tranquilidade». Em matéria de viagens, Gouette prefere fazer incursões pelas aldeias e lugares mais recônditos de cada país. «É aí que se encontra a verdadeira essência dos lugares», explica. Nesse sentido, vai fazer uma rota pelas aldeias históricas de região e, mais tarde, «rumar às praias, no litoral».

Menos turistas na Guarda

Segundo dados do Posto de Turismo, comparativamente com 2004, o mês de Julho registou, este ano, uma menor afluência de turistas na cidade. Os números baixaram de 1654 para 1234 visitantes. A maior quebra fez-se sentir em relação aos turistas franceses: em 2004 visitaram-nos 354 e em 2005, apenas, 262. Já os ingleses em 2004 vieram 135 e este ano 84. Ainda assim, registou-se um aumento de turistas espanhóis, em 2004 estiveram entre nós 285 e este ano 376.

Quem visita a cidade procura o património histórico e o ambiente ou a serra. Por outro lado, o facto de ser a “cidade mais alta de Portugal” gera alguma curiosidade nos forasteiros. De uma forma geral, os turistas referem que gostam da capital de distrito, mesmo com a condicionante das obras na Praça Velha – um estorvo. No entanto, alguns comentam que a Judiaria poderia oferecer outras condições a quem visita a cidade. O Centro Histórico é apreciado, mas merece o lamento por estar «pouco cuidado». A Guarda afirma-se como um local de passagem, uma vez que os turistas raramente ficam mais de um ou dois dias.

Nos restaurante e hotéis, «este ano, turistas nem vê-los»

A maioria dos comerciantes na área da restauração e hotelaria da cidade garantem que, este Verão, a afluência de turistas aos seus estabelecimentos é baixa. Acessos difíceis, as obras na Praça Velha, falta de estacionamento no centro da cidade, poucos atractivos e a crise generalizada são os principais factores apontados. António Nunes, proprietário do restaurante “Ferrinho”, acredita que o principal problema tem a ver com o facto de, cada vez mais, «o turista passar na estrada e não vir à Guarda». Por outro lado, o comerciante considera que a cidade é «demasiado confusa para quem a visita», devido à falta de indicações. Ainda assim, acredita que existem «atractivos de sobra» na cidade, mas o problema reside «na falta de estruturas de apoio ao turismo». José Castanheira, gerente do “Belo Horizonte”, mostra-se desapontado com a falta de turistas no seu restaurante. Indignado, sente que a Guarda «deixou de ser uma referência turística, tornando-se num mero ponto de passagem» e adianta algumas soluções possíveis, como uma maior « promoção, animação de rua e a revitalização das Festas da Cidade». Na grande maioria dos casos, a quebra no negócio dos restaurantes faz-se sentir em mais de cinquenta por cento em relação ao ano passado. O panorama nos hotéis da Guarda não é muito diferente. Embora nenhuma das unidades hoteleiras tenha adiantado números concretos, as opiniões foram unânimes: «há menos turistas na cidade».

Rosa Ramos

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