O Instituto Politécnico da Guarda organiza a 17 de Maio as primeiras Jornadas Interdiciplinares sobre Tuberculose. Com esta iniciativa, apoiada pela Escola Superior de Saúde, pretende-se uma reflexão objectiva sobre a realidade desta doença em Portugal.
Serão explanadas as vertentes de prevenção e combate, historial da luta, assim como a divulgação de novos fármacos e estudos, numa abordagem interdisciplinar que tem como público-alvo a população em geral, mas mais especificamente os docentes, alunos e profissionais de saúde. Do programa das jornadas destacam-se as intervenções sobre “Tuberculose em Portugal, situação epidemiológica actual e desempenho do programa de controlo”, por António Fonseca Antunes (Direcção-Geral de Saúde); “Tuberculose pulmonar na transição do século XIX-XX: evidências paleopatológicas”, por Ana Luísa Santos e Vítor Matos (departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra); “Abordagem farmacológica à Tuberculose”, de Ana Paula Gonçalves; e “Tuberculose – Radiografia do Serviço de Pneumologia do HSM”, por Eva Neto da Silva e Sérgio Manuel Caseiro (Serviço de Pneumologia do Hospital Sousa Martins). A presença de Jorge Sampaio, nomeado enviado especial da ONU para a luta contra a tuberculose, em Maio último, é considerada uma «forte hipótese», adiantou o presidente do Politécnico, Jorge Mendes, em conferência de imprensa.
A escolha de 17 de Maio está relacionada com o facto de, no dia seguinte, ser celebrado o centésimo aniversário da inauguração do antigo Sanatório Sousa Martins. Segundo Jorge Mendes, o IPG inicia com as Jornadas sobre Tuberculose «um ciclo de conferências de várias temáticas actuais e com interesse, estando previstas novas iniciativas este ano sobre turismo e juventude», entre outras. Portugal continua a ser dos países europeus com «maior incidência de doentes afectados com tuberculose, sobretudo nos distritos de Lisboa, Porto, Setúbal e Coimbra», disse o presidente do Politécnico. Anualmente, em todo o mundo, surgem oito milhões de novos casos, dos quais cerca de dois milhões são fatais.
Maior índice de tuberculose extra-pulmonar no distrito
Dos 15 casos registados em 2006 pelo Centro de Diagnóstico da Guarda, 13 revelaram-se extra-pulmonares
A taxa de incidência da tuberculose no distrito da Guarda é estável, garante a responsável pelo Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP). No entanto, Dulce Quadrado, médica há 20 anos naquele serviço, refere que tem havido um aumento da tuberculose extra-pulmonar.
Nos últimos três anos o número de casos avaliados pelo CDP tem variado entre 20 e 50, mantendo-se estáveis. Em 2006 verificou-se mesmo o menor registo desde o virar de século, 15, sendo que em 13 deles foi diagnosticada tuberculose extra-pulmonar. Em 2004, num total de 22 doentes, verificaram-se sete casos extra-pulmonares, número que duplicou em 2005, com 14 casos num universo de 37 pacientes. Apesar de não atribuir nenhuma razão específica para tal facto, Dulce Quadrado lembra que «o bacilo que provoca a doença a nível de pulmão, também actua noutros orgãos», alertando para o seu carácter oportunista, já que «aproveita o facto das pessoas se apresentarem imunocomprometidas, como, por exemplo, na imunodeficiência, para se desenvolver». Sobre a situação na região, a médica afirma que «não se compara com certos distritos do litoral», até porque «as condições são diferentes e as pessoas também». O litoral dispõe de um maior índice demográfico, que conduz, naturalmente, a mais grupos de risco, como os toxicodependentes, pessoas infectadas com o vírus HIV, emigrantes e grupos de exclusão social.
Mas engana-se quem julga que a tuberculose é um problema exclusivo destes grupos de risco. «Não é verdade que apareçam apenas pessoas de nível socio-económico mais baixo com tuberculose, pois ela não escolhe classes», avisa. O CDP cumpre um plano de actividades que engloba actualmente a prática de Terapêutica Observada Directamente (TOD), aplicada em doentes com tuberculose multirresistente. A TOD permite um combate eficaz ao desenvolvimento de bactérias ultra-resistentes, uma vez que o Centro, através do centro de saúde, do médico de família e do assistente social do doente, envia a medicação, «que é posteriormente administrada de forma supervisionada», esclarece Dulce Quadrado. No seu plano de actividades existe ainda o rastreio dos profissionais de saúde, da respectiva Sub-Região de Saúde, assim como de conviventes dos utentes. Compete-lhe ainda a manutenção de acções de prevenção no Centro de Atendimento a Toxicodependentes, no Estabelecimento Prisional local e no Centro Educativo do Mondego, através de rastreios anuais. O Dia Mundial da Tuberculose comemorou-se a 24 de Março.