A Quercus não ficou parada perante o abate de dezenas de árvores, que há décadas fazem parte da Avenida Cidade de Salamanca, na Guarda, e no passado dia 2 interpôs uma providência cautelar contra a Câmara, que foi aceite pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco.
Esta ação da associação ambientalista tem como objetivo a «cessão imediata do abate de árvores» que consta no Plano de Rearborização apresentado pelo executivo de Álvaro Amaro. Já nada poderá ser feito relativamente aos cedros e tílias abatidos na avenida guardense, mas os autores da providência cautelar acreditam que «o mesmo mal» poderá ser evitado nas restantes zonas da cidade. A Quercus considera que a atuação da autarquia «configura uma gestão danosa do património público arbóreo da antiga EN16, criado pelo Estado através da Junta Autónoma das Estradas em meados dos anos 30 do século passado». Em causa está o «bom senso» ou a falta dele, considera Domingos Patacho, coordenador do grupo de trabalho de Florestas da Quercus. «Compreendemos a necessidade de substituição de algumas árvores, mas deveria ser efetuado um planeamento faseado ao longo de vários anos e não cortar todo o arvoredo urbano em escassos dias», refere o responsável.
Acusando o município de querer fazer as coisas «à força», de não esclarecer a população e de continuar com os abates, o dirigente denuncia que estão em causa «questões eleitorais» e sublinha que esta situação transforma-se num «mau cartão-de-visita da Guarda».
Petição pública online contra o abate
Mais de uma semana depois do início abate de árvores na Avenida Cidade de Salamanca, a contestação gerada em torno do caso não acalmou, pelo contrário. Após a primeira justificação da autarquia, que se prendeu com o resultado de um estudo pedido à UTAD, e de mais tarde dizer que afinal o estudo em causa que motivou a decisão foi realizado por uma empresa de Lisboa, vários são os guardenses que se têm insurgido contra a medida da Câmara e online está já a decorrer, desde o dia 2, a petição “Cessão imediata do abate de árvores na Guarda”, que às 21 horas de terça-feira tinha 792 assinaturas (http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT80278).
Num comunicado enviado às redações, o PAN, Pessoas – Animais – Natureza juntou-se ao movimento declarando que «apoia e aplaude» a aceitação da providência cautelar. O partido adianta que, posteriormente à apresentação do projeto de rearborização daquela artéria da cidade, fez uma exposição por escrito ao presidente da Câmara, no sentido de «alertar a autarquia para os danos desta iniciativa e de informar que havia dezenas de munícipes desagradados com a implementação dos mesmos». Por parte do PS, o silêncio reinou até à passada sexta-feira. Questionado por O INTERIOR, o recém-eleito presidente da Federação da Guarda disse concordar «com o corte de algumas árvores com critério e estudo», mas acrescentou que discorda «quando o corte é indiscriminado e sustenta-se apenas pelo aspeto estético». António Saraiva afirmou ainda que «a Guarda está a acordar, pois ninguém consegue viver só com soluções de fachada e festas». O INTERIOR contactou a Câmara da Guarda por várias vezes para conhecer a sua posição relativamente à providência cautelar, mas apesar das tentativas ninguém do executivo esteve disponível para falar.
Embora a providência cautelar tenha travado o plano de rearborização na Avenida Cidade de Salamnca, o mesmo continua noutras zonas da cidade. Já a madeira das árvores cortadas está a ser levada para a Quinta da Maunça, antigo espaço de pedagogia ambiental agora votado ao abandono, para ser posteriormente vendidas em hasta pública.
Ana Eugénia Inácio