Nos últimos oito anos ficaram desempregadas, só na Covilhã, mais de 1.600 pessoas em consequência do encerramento de 28 fábricas. Em Belmonte fecharam outras cinco, que deixaram 415 trabalhadores no desemprego, enquanto no Fundão três fábricas encerradas deixaram 550 funcionários sem trabalho. Feitas as contas, na Cova da Beira, as dificuldades no sector da indústria têxtil e confecções causaram mais de 2.500 novos desempregados entre 2000 e 2008.
Os números foram avançados pelo Sindicato Têxtil da Beira Baixa (STBB), que alerta também para o elevado número de inscritos nos Centros de Emprego do distrito de Castelo Branco – actualmente são mais de 7.800 pessoas. Um diagnóstico ainda mais preocupante se juntarmos a estes dados o levantamento que a CGTP tornou público, na última semana, sobre as empresas que faliram e que ainda devem salários e indemnizações aos seus trabalhadores. O documento revela que, na Guarda, há 11 empresas falidas com ordenados ou créditos atrasados, uma situação que afecta 872 pessoas e ultrapassa os 16 milhões de euros em dívida. Só o encerramento da Gartêxtil afectou 180 operários, que ainda esperam pelo pagamento de mais de quatro milhões de euros. A Sotave, em Manteigas, é a empresa que segue na lista, cuja insolvência deixou sem trabalho 170 pessoas. A têxtil ainda tem 2,5 milhões de euros por liquidar.
No caso da Malhas Combate, em Seia, estão por pagar 800 mil euros aos 90 funcionários que perderam o emprego. Já a TSE, de Gouveia, deve mais de 1,6 milhões a 77 operários, enquanto a Têxtil das Lamas deixou desempregados 70 pessoas. A Alvalã ainda está em dívida para com 61 funcionários, o mesmo acontecendo com as guardenses Jopilã e a Efilã relativamente a 35 operários, cada uma. Segue-se a Ranking (Sabugal), que ainda terá de prestar contas a 31 ex-trabalhadores e a Cabral e Irmão, que despediu 23. No total, há 872 trabalhadores no distrito da Guarda com créditos por receber e que ascendem a mais de 16 milhões de euros. No distrito de Castelo Branco, existem 32 empresas com pagamentos em dívida para 911 antigos funcionários. A Álvaro Paulo Rato, da Covilhã, deve mais de 938 mil euros a 54 trabalhadores. Mas não é caso único. A Américo Sousa e Irmão ainda não liquidou 139 mil euros juntos dos 34 trabalhadores que ficaram sem emprego. Nem a J. Vaz, que deve 119 mil a 22 pessoas. São apenas três exemplos, já que há pelo menos outras cinco empresas na mesma situação. E isto só no concelho da Covilhã.
O sector com o maior número de trabalhadores credores é, à semelhança do que acontece no panorama nacional, a indústria têxtil. De resto, os sindicalistas alertam para o facto da justiça ser extremamente vagarosa, lembrando que há casos que se arrastam «há mais de 20 anos» nos tribunais. «Muitos deles, quando se resolvem, já apenas encontram herdeiros dos trabalhadores falecidos e os montantes atribuídos estão desvalorizados com o passar do tempo», sublinha Honorato Robalo, dirigente da União dos Sindicatos da Guarda, afecta à CGTP. Num comunicado, esta estrutura apela ao fim de uma «injustiça que se vem arrastando ao longo dos anos com a cumplicidade dos sucessivos Governos». Feita a denúncia, o sindicato quer que o Governo assuma o pagamento dos salários em atraso há mais de um ano, tornando-se credor das empresas falidas e pede «uma iniciativa legislativa que privilegie os créditos dos trabalhadores».
Ex-trabalhadoras da ERES ainda vão ter que esperar
«Houve dois pesos e duas medidas», garante o STBB sobre o desfecho do pagamento dos créditos às ex-trabalhadoras da fábrica ERES, do Fundão. O sindicato vai recorrer da decisão do tribunal por considerar que o mapa de rateio de distribuição do dinheiro às operárias está «errado». Assim, quer o liquidatário da empresa, quer o tribunal terão de suspender novamente o pagamento dos valores ainda retidos até que haja uma nova decisão. Em causa está o facto de parte das antigas operárias da fábrica de confecções estar a ser representada, na justiça, pelo STBB, ao passo que outras são defendidas por uma advogada do Fundão. Segundo o sindicato, o mapa aprovado em tribunal «beneficia» estas últimas, pelo que garante levar o processo «até às últimas consequências», avisando que, «a seu tempo, tudo será dito, incluindo quem contribuiu para a falência da empresa e quem com ela beneficiou». Em comunicado, o STBB revela que a própria advogada das trabalhadoras terá dito que «há injustiça na distribuição do dinheiro, mas que as contas não devem ser refeitas por que a sentença já transitou em julgado».
Têxteis António João lança mais 22 para o desemprego
A “Têxteis António João” também não escapa à crise. Os 22 trabalhadores da fábrica de Maçaínhas, no concelho da Guarda, depararam-se, na última segunda-feira, com os portões fechados. Logo pela manhã, tentaram obter esclarecimentos por parte da administração sobre o motivo dos quatro meses de salário e o subsídio de Natal que têm em atraso. Depois de reunirem com a entidade patronal, os operários recusaram-se a regressar ao trabalho ontem. Quem foi apanhado de surpresa foi o Sindicato dos Têxteis da Beira Alta (STBA). Carlos João lamenta que «os trabalhadores tenham escondido que tinham os salários em atraso com medo de denunciar a situação».
Carveste despede 43
A Carveste vai despedir 43 das 225 trabalhadoras da fábrica de Caria. As operárias foram informadas da decisão no dia 31 de Dezembro. Luís Garra, do STBB, garante que Francisco Cabral, o proprietário da empresa, agiu «à má fila e sem ética, já que deixou as funcionárias ir de férias para, no fim do ano, as presentear com as cartas de despedimento sem qualquer aviso prévio», acusa. A administração propõe liquidar as indemnizações de cada trabalhadora em prestações de 100 euros mensais. Uma solução que funcionárias e sindicato decidiram recusar após uma concentração realizada na segunda-feira de manhã, à porta da empresa. O STBB já solicitou uma reunião com a administração e, «caso a situação não seja alterada, vamos impugnar o despedimento», assegura Luís Garra.
Rosa Ramos