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Todas as ofertas são bem-vindas na Srª do Desterro

Santuário religioso de São Romão (Seia) precisa de obras urgentes, mas a Confraria não tem dinheiro

O lugar da Senhora do Desterro, no sopé da Serra da Estrela, em S. Romão (Seia), é lendário e de grandes tradições. Com as esmolas e doações feitas a este santuário construíram-se mais sete capelas nas duas margens do rio Alva, representando algumas etapas de Jesus Cristo. Ao todo são dez pequenas igrejas. A edificação deste santuário esteve a cargo dos Irmãos da Confraria de Nossa Senhora do Desterro, no séc. XVII. Agora é preciso restaurar mais património e, por isso, todas as ofertas são bem-vindas.

A Confraria de Nossa Senhora do Desterro iniciou há três anos obras que «se impunham há muito nos imóveis do santuário», sobretudo no que concerne à conservação do espólio religioso, capelas e imagens, conta Celso Santos, juiz presidente da congregação. Entre os restauros destaca-se a substituição completa dos telhados, arranjo e pintura exterior das capelas da Sr.ª da Anunciação, da Boa Viagem e do Desterro; pintura e arranjo exterior da Capela dos Doutores; pintura total do Coreto; substituição integral dos telhados da antiga pensão com reboco e pintura integral das paredes exteriores e pavimentação dos espaços circundantes das capelas da Sr.ª da Piedade e da Apresentação, para além de uma rampa de acesso à capela da Agonia. Procedeu-se ainda ao restauro de algumas imagens, como a da Sagrada Família, S. Pedro e Sr.ª da Boa Viagem, venerada anualmente por muitos imigrantes. «Trata-se de uma manutenção muito dispendiosa, pois envolve a intervenção de especialistas», refere Celso Santos, adiantando que as dez capelas já têm telhados novos. Mas se a classificação do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) tivesse ido para a frente «certamente que não estariam em tão bom estado», acrescenta. Quanto aos fundos deste investimento, o responsável foge à questão e diz que «o segredo é a alma do negócio».

Além da boa vontade, algumas doações e da fé, a confraria conta com a ajuda do pároco e da Câmara de Seia, mas não chega. No entanto, as obras têm que ser feitas e, por isso, vão solicitar um empréstimo de «20 mil euros» para a recuperação da casa nº 5 e nº 6, ao lado da capela principal, para turismo rural, revela o juiz presidente. Assim, o património da congregação aumenta, uma vez que já foi recuperado um antigo forno, junto à praia fluvial, onde nasceu um restaurante encastoado num grande bloco de granito. O projecto do casario ainda está em fase de estudo, mas tudo indica que poderá disponibilizar cerca de dez quartos, «o que vai contribuir para o aumento da oferta hoteleira», afiança. «O santuário tem que ser uma atracção turística, este é o lema da confraria», sublinha Celso Santos, que, curiosamente, nasceu na Capela da Nossa Senhora da Anunciação, onde está um “anjo-da-Guarda” a anunciar a Irmandade.

Obras urgentes, precisam-se

Para além da recuperação das casas para turismo rural, há outras obras urgentes. Particularmente na Capela dos Doutores, pela sua «singularidade e raridade» devido ao número das suas imagens, mas sobretudo ao seu tamanho quase natural e à escassez do motivo (encontro de Jesus no Templo). E outras, como a reparação do retábulo e das imagens da Capela da Sr.ª da Anunciação, ou o restauro dos altares da Capela Titular. «Não sei qual será o orçamento para todas estas obras, mas sei a dívida que temos, quase 10 mil euros», lamenta. Este responsável só tem uma certeza, é que apesar da falta de apoios, «o património religioso vai continuar a ser recuperado, aliás como até agora», garante o membro da direcção, que é composta por onze elementos. Também, António Abrantes, da direcção, comunga da mesma opinião e acrescenta: «O santuário assemelha-se a um corpo, que recebeu agora como que uns primeiros socorros, mas tem urgência de uma profunda cirurgia».

Estórias da Srª. do Desterro

O santuário da N. Srª. do Desterro fica a três quilómetros de São Romão, na margem do Rio Alva. Ao avistar a capela da padroeira do lugar, construída em 1650, deparamos-nos com a capela da Nossa Senhora da Estrela, a mais antiga das dez capelas, originária do século XII. Consta que neste sítio foram aparecendo sucessivamente, embora em lugares distintos, as imagens de Nossa Senhora, do Menino Jesus e de S. José. Em 1650 logo após as aparições das imagens erigiu-se uma ermida a que foi dado o nome de N. Srª. do Desterro, aludindo ao desterro da Sagrada Família para o Egipto. Reza a história, que em pouco tempo o santuário tornou-se um dos mais celebres e as suas romarias das mais concorridas do reino. Por outro lado, a Capela da N. Srª. da Boa Viagem foi mandada construir em 1879 por um casal, em reconhecimento do pedido de auxílio a N. Srª. da Boa Viagem, num naufrágio que tiveram. Com as esmolas e doações que este santuário recebia construíram-se mais sete capelas, nas duas margens do Alva, representando algumas etapas de Jesus Cristo. A edificação destas capelas esteve a cargo dos Irmãos da Confraria de Nossa Senhora do Desterro. Entre as quais se encontra a capela da N. Srª. da Anunciação, da Apresentação, dos Prazeres (ou dos Doutores), do Encontro, das Dores, N. Sra. Piedade, Capela da Oração de Jesus no Horto, e do Senhor do Calvário.

Patrícia Correia

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