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Tese de doutoramente realça posição estratégica da Beira Interior

Acessibilidades deixam de ser «entrave ao desenvolvimento da região» a partir de 2006

A partir de 2006, data prevista de conclusão do IC6, que ligará a Covilhã a Coimbra, e da A25, para além da A23, já em funcionamento, as acessibilidades deixarão de ser um entrave ao desenvolvimento da Beira Interior. Esta é uma das principais conclusões a que chegou o covilhanense Jorge Reis Silva, professor assistente do Departamento de Ciências Aeroespaciais da UBI, autor da primeira tese de doutoramento em transportes no país, subordinada ao tema “As acessibilidades como factor do desenvolvimento de regiões periféricas: o Caso da Beira Interior”. O engenheiro electrotécnico deverá defender a sua tese até Março no Instituto Superior Técnico.

Com este trabalho, o docente pretendeu avaliar «qual o verdadeiro ónus» do facto de, ao longo dos anos, o decréscimo populacional e a debilidade do tecido empresarial terem sido justificados com a «falta de transportes e acessibilidades». Para o efeito, foram auscultados os principais e maiores empresários da Beira Interior, de modo a saber se as decisões locativas ou organizativas eram tomadas «com base nas infraestruturas existentes ou condicionadas pela sua ausência», adianta. A conclusão é a de que estes empresários não apontam necessidades «especiais ou significativas» em termos de acessibilidades» e que estas não constituem a «principal fonte de problemas para a sua fixação», revela. Contactados também alguns empresários do litoral, Jorge Reis Silva constatou que as principais reclamações destes investidores «não têm a ver com as grandes acessibilidades, mas muitas vezes com a ligação entre a sua própria porta e os nós de acesso aos IP’s, auto-estradas e estações de caminhos-de-ferro ou do aeródromo, no nosso caso». Em suma, as «acessibilidades que faltam aos nossos empresários são aquelas que estão junto à sua porta», sublinha o professor.

Chegar mais depressa que quem sai do litoral

De seguida, o engenheiro foi aferir as acessibilidades, tendo elegido um eixo urbano entre a Guarda, Covilhã e Castelo Branco, que reúne praticamente 50 por cento da população da Beira Interior e onde os níveis de desenvolvimento são mais elevados. Este eixo foi posteriormente comparado com várias cidades do litoral, a que se juntou Leiria por ser apontada «como um exemplo a seguir». Foram estudados vários cenários, como 1992, 2006, «quando já deverão estar construídas a A25 e o IC6»; 2020, data prevista para a conclusão das grandes redes transeuropeias de transportes; e, por último, um cenário de acessibilidades «hipotético e ideal» onde nos pudéssemos dirigir para qualquer destino em linha recta a uma velocidade média de 100 quilómetros/hora. Calculou-se depois, a partir de cada cidade e de hora a hora, divididas por escalões de 15 minutos, qual a quantidade de população nos concelhos atravessados que era possível atingir em cada um destes cenários a partir dos vários pontos do eixo definido. Desta forma, foi possível indicar as «orientações estratégicas», isto é, os sítios para onde os beirões, partindo daquelas três cidades, poderão chegar «mais depressa do que quem sai das cidades do litoral».

Assim, no cenário ideal, desde a Beira Interior até duas horas de viagem, estamos ao alcance de menos população do que está Leiria, mas a partir das três horas «conseguimos alcançar mais população do que as cidades do litoral», o que significa que há uma «vantagem comparativa» a partir das três horas de viagem. Aliás, «até cinco horas de viagem, a partir desta região, conseguiremos alcançar praticamente todo o Norte de Espanha e uma faixa que vai um pouco além de Madrid», refere, o que faz sobressair a posição estratégica da Beira Interior. Jorge Reis Silva acredita que com este estudo podem ser feitas recomendações a empresários que estejam no litoral, em sítios mais congestionados, e que queiram vir instalar-se nesta região a partir de 2006. Por outro lado, com a melhoria das acessibilidades, verifica-se que com o mesmo tempo de viagem «se consegue alcançar muito mais pessoas. «Em 1992, com três horas de viagem, chegava-se a uma população que rondava o meio milhão de pessoas e em 2006 pode-se falar em 10 milhões», adianta. Quanto à introdução de portagens nas SCUT, o engenheiro é lacónico: «Se aos residentes que têm que se movimentar ao longo da A23 não dá jeito nenhum pagar, provavelmente todos estamos de acordo de que os passantes, sobretudo os que não param, deviam pagar. Temos que encontrar aqui algum equilíbrio», defende.

Ricardo Cordeiro

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