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Tão perto e tão longe

Menos que Zero

Uma intervenção urbanística levou a Câmara Municipal da Covilhã a informar um pequeno comerciante de que o seu negócio teria de sair do local onde até então funcionara. Na mesma ocasião, a autarquia solicitou ainda ao comerciante que sugerisse uma outra localização para retomar a sua actividade. A proposta de localização apresentada pelo comerciante não foi aceite pela Câmara e o local sugerido pela Câmara não é do agrado do comerciante, pelo que o estabelecimento está encerrado. Até aqui nada de espantoso, excepto o facto da tal intervenção urbanística não ter ainda data anunciada, se é que alguma vez vai ser realizada. Feita esta ressalva, podemos dizer que estamos perante um mero processo negocial em que as partes envolvidas se limitam a acautelar os seus interesses.

Infelizmente, o caso não é assim tão simples. Para além de uma das partes, a Câmara, ter especiais responsabilidades sociais, há um drama familiar desencadeado pelo encerramento, pois aquele pequeno comércio era o único sustento de uma família composta por quatro pessoas, uma das quais deficiente. Caso os autarcas envolvidos não se lembrem, convém recordar-lhes que os desempregados também comem e, para além disso, pagam renda de casa, água e electricidade, por exemplo.

Numa situação deste género, a Câmara deveria ter procurado uma solução para aquela família, criando um subsídio ou oferecendo um emprego temporário. Mas não: o assunto foi tratado friamente, parecendo que os responsáveis camarários não conhecem a situação económica das pessoas envolvidas.

Um outro exemplo do distanciamento da autarquia em relação aos munícipes é observável no acompanhamento das obras que decorrem nas ruas da cidade. Informam-se os comerciantes da intervenção, pede-se desculpa pelos incómodos e já está. As pessoas, especialmente os comerciantes, até são compreensivos, mas há limites para tudo. Basta recordar que, por norma, as obras demoram mais do que o previsto, mas ninguém se responsabiliza pelos prejuízos causados. Custava muito ter um grupo de acompanhamento das obras? Não há no quadro de pessoal da autarquia um gestor e um sociólogo, por exemplo, que possam fazer um estudo do impacto das obras no comércio local? Era muito difícil criar mecanismos de compensação para quem sai prejudicado com estas intervenções?

Como escrevi noutras ocasiões, parece-me que as autarquias têm vindo a afastar-se dos munícipes, esquecendo o seu objectivo mais genuíno: acompanhar de perto os problemas reais das pessoas. Por tudo isto, ninguém deve estranhar que a população aplauda os cortes governamentais nas verbas a transferir para as autarquias. Se a autarquia não apoia os seus munícipes, eles respondem na mesma moeda.

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