P – Quais os projectos que vai candidatar?
R – Além da requalificação do estádio municipal, temos o pavilhão multiusos – a versão em V do gimnodesportivo, uma nova variante à cidade e tentar que a estrada Mêda-Marialva-Pinhel faça parte do quadro comunitário. Tem que ser da responsabilidade do Estado, porque as duas autarquias não têm condições para realizar este investimento. Candidatámos também uma nova zona industrial, já que o atrofiamento financeiro causado por duas ou três obras de vulto não nos tem permitido avançar. Neste momento as penalizações para os municípios com endividamento são muito gravosas e não estamos em condições de ser penalizados em 10 por cento das nossas receitas.
P – Em relação ao IP2, já está resolvido o diferendo do traçado com a Estradas de Portugal?
R – Não. Discordamos do traçado proposto no nosso município, temos lutado com os nossos meios e possibilidades para que não seja uma realidade na zona da Veiga de Longroiva. O IP2 não deve passar por ali. Defendemos que a estrada se faça mais na parte nascente, na outra encosta sobranceira à Veiga, e continuamos à espera de respostas. Mas neste momento não temos garantias nenhumas.
P – A manutenção deste traçado será prejudicial para um sector que é bastante importante no município?
R – É profundamente nefasto para aquela zona, e até para o Douro, serem suprimidas vinhas com tão boa qualidade. Acho até que é um caso de lesa-economia porque é uma das zonas mais apetecíveis para a produção de vinho do Porto.
P – Qual é a sua expectativa quanto ao arranque desta obra?
R – A informação que tenho é que o projecto seria lançado ainda este ano. Assim deverá ser para o troço Celorico-Trancoso, presumo que este virá a seguir. No entanto, discordo que se façam apenas duas ou três faixas a Norte de Trancoso. Já contestei essa situação, mas vejo que é um bocado difícil, porque atiram-me sempre com números para sustentar que um IP com três vias é suficiente para esta região. O problema é que o Norte do distrito está muito prejudicado em termos de acessibilidades.
P – Mas a Câmara não vai abdicar de uma ligação segura e rápida à A25?
R – Obviamente. A ideia do Governo é que, a Norte do distrito da Guarda, Trás-os-Montes e Alto Douro, o IP2 só terá três faixas, o que considero uma injustiça. Entendo que deveria ser uma via com características de auto-estrada porque já tivemos a experiência do IP5. Mas, infelizmente, parece que as lições do passado ainda não serviram para as pessoas de Lisboa tomarem decisões correctas sobre a nossa região.
P – Como se posiciona a Mêda, em termos turísticos, entre o Douro e a Serra da Estrela?
R – Somos um município afincadamente do Douro. A nossa riqueza é o vinho e o nosso património, pois tempos quatro ou cinco castelos no município e dezenas de monumentos que precisam de muitas verbas para a sua requalificação. É um ponto assente que a Mêda não pode abdicar do Douro, de tal forma que já estamos incluídos na estrutura da Missão do Douro, sedeada na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. O objectivo é constituir uma espécie de “task force” para trazer alguns benefícios para a região, pois todos estes municípios ganharão se houver união e coesão de grupo e intermunicipal do Douro. Além disso, estamos na Região Demarcada do Douro e pertencemos à Região de Turismo Douro Sul, de cuja direcção faço parte. Mas também há uma relação umbilical com a Guarda e Coimbra, pelo que temos que saber jogar com estas diferenças.
P – E o concelho tem beneficiado dessa característica duriense?
R – O Douro sofre de algumas dificuldades. Já se fez muito em termos de turismo, mas ainda há muito a fazer, pois esta região é capaz de atrair muito mais gente e tornar-se um produto turístico apetecível. Sou daqueles que entendem que os caminhos do Douro são os do turismo, mas, independentemente dos grandes investimentos, há que chamar os turistas. Em tempos vieram pelas gravuras, mas deixaram de vir, por isso é preciso saber muito bem o que pretendemos. Há tantas potencialidades, como as rotas dos vinhos, a navegabilidade do rio, a paisagem, o património edificado ou a linha férrea, mas é preciso arranjar motivos para as pessoas virem. No entanto, acho que o Douro não tem sido muito divulgado. O Governo tem feito algumas coisas a nível europeu, mas é preciso mais.
P – Qual é a importância do sector vitivinícola para a economia do município?
R – É muito grande. A começar pela adega cooperativa, apesar das suas dificuldades, comuns ao sector, e deste ano não ter sido um dos melhores. Mas está a nascer aquilo que considero uma boa regra, que é os produtores poderem ter e comercializar as suas próprias marcas e produtos. Actualmente haverá uma meia dúzia deles com marcas registadas e vinhos de qualidade e já temos inclusive empresários de sucesso.
P – A Mêda ainda não tem um hotel, mas diversas unidades de alojamento em turismo rural ou de aldeia. Esse também é um sector importante para o município?
R – Há várias e boas alternativas no concelho, nomeadamente as Casas do Côro, em Marialva, que é uma unidade de grande categoria. Contudo, acho que ainda há lugar para a construção de um hotel. Há empresários que estão a pensar nisso, por causa, nomeadamente, do turismo no Douro. É que, no âmbito da Missão do Douro, perspectiva-se a criação dessa infraestrutura em cada um dos concelhos, principalmente naqueles onde não há hotéis, como é o nosso. Trata-se de um investimento importante que dará consistência e consolidação ao turismo da região.
P – Em termos de património, um dos expoentes máximos é Marialva, mas começa a despoletar-se algum interesse pelo Vale do Mouro. Para quando um museu na Coriscada?
R – É uma estação arqueológica ainda muito embrionária e que vai merecer várias campanhas. A Câmara tem apoiado na medida das suas possibilidades e achamos que é um bom projecto que pode trazer pessoas à região. Mas, por enquanto, acho que não há grande interesse em massificar as visitas ao Vale do Mouro, pois falta estudar muita coisa. Além de que os acessos não se coadunam com a importância que todos achamos que o sítio tem. Penso que se deve refrear a emoção destes achados, importa agora é fazer com que as escavações continuem independentemente de durarem um ou dois anos. É um projecto que não vai acabar amanhã, pelo que é necessário que os poderes e as entidades competentes apoiem mais o Vale do Mouro. Sozinhos, a autarquia, o arqueólogo e a associação local não têm capacidade para levar o projecto por diante. Vamos tentar candidatar a intervenção ao QREN e, por isso, ainda é muito cedo para falar em museu.
P – Que outro património pode ser descoberto e potenciado no município?
R – Estão em curso as escavações de São Jus, em Ranhados, embora com menos intensidade que na Coriscada. Há ainda o castelo de Marialva, que é o ponto alto da história e cultura do concelho, e algumas aldeias medievais, como Casteição, Longroiva, Ranhados e Aveloso. A própria sede de concelho possui um conjunto de monumentos bastante interessante e muito bem recuperados, sendo um local de visita obrigatório de quem nos visita. Temos um posto de turismo na Mêda, cujo funcionamento estamos a melhorar, e outro em Marialva, da responsabilidade do IPPAR, mas que funciona com alguma deficiência que urge solucionar, porque esse serviço que tem funcionar como deve ser.