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Sobre Portagens

Da Beira ao Algarve, a imprensa noticia furiosas manifestações contra as portagens.

Não há nações perfeitas, mas honra-me sobremaneira, a mim, cuja incoercível natureza são livros, arte, museus, património, reflexão, viagens, cosmopolitismo, o empreendedor carácter dos portugueses.

Não falo em vão.

A obra que os nossos compatriotas realizaram em Angola avantaja-se-me tanto mais quanto o tempo passa. É uma emoção profunda e uma afirmação imparcial, pois contemplei-a enquanto alferes miliciano, alguém situado noutro mundo.

Em Agosto transacto, na N-10, a caminho de Bordéus, no departamento da Gironda, parei à beira da estrada para comprar fruta. Era um simpático casal e a conversa estabeleceu-se fácil.

«E há muitos portugueses por aqui? Em que trabalham?»

A resposta à minha indagação foi pronta: «Aqui trabalham em serrações e estão bem vistos».

Os restaurantes de Bruxelas, nas imediações da Casa-Museu Victor Horta, ou de Antuérpia, relativamente perto do porto, onde se comem batatas com bacalhau e se vê a RTP-Internacional, são outra presença que me emociona, obriga a reflectir.

Tal qual a presença lusa na Alemanha ou o mecânico nascido em Esposende que, há anos, em Gotemburgo (Suécia), na VW, mudou o óleo à minha auto-vivenda.

Podia mencionar também essa majestosa figura – n.º 1da Genética mundial – que é o Prof. Lima-de-Faria a ensinar a partir de Lund; ou outras, mas basta.

Durante a realização do Euro 2004, um colaborador do El País, noticiando de Lisboa e falando dos portugueses, era claro: «Una nación de niños». A superficialidade dos textos que Manuel Alegre escreveu em tal jornal, de algum modo, confirmava tal verdade que temos que interiorizar.

Só se pagam portagens em países católicos (Portugal, Espanha, França, Itália e seus “primos” ortodoxos, isto é, sérvios e gregos). Não sei a percentagem de protestantes na Bélgica. Todavia, se é católica que devemos qualificá-la, então trata-se da excepção à regra.

Holanda, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia, protestantes (na Alemanha, sabe-se, há 51 % de católicos) são países onde não há portagens – conquanto a Alemanha queira introduzi-las para pesados.

Não menciono a Inglaterra, porque, no fundo, aí não há religião nenhuma. Um Regalismo não cabe na esfera religiosa.

O PS deixou as finanças do País no estado que se sabe – e não há mais que aguentar a herança.

Tinha sido prometido que não haveria portagens nas auto-estradas do interior? Mas, se Portugal não tem dinheiro, a factura será paga apenas por alguns? E quem acredita em políticos?

O interior é, realmente, uma desolação. Viajem, v.g., do Sabugal até Figueira de Castelo Rodrigo ao longo da fronteira. Que desolação extrema!! Que têm feito os políticos em Lisboa!?

Se forem arranjadas alternativas às auto-estradas, por mim pagarei tranquilamente as portagens; caso contrário parece-me indecente.

A EN-340 (Espanha), que bordeja todo o Mediterrâneo, de Cádiz a Barcelona, e, durante centenas de quilómetros com uma auto-estrada à ilharga, está saturada pelos que não querem pagar portagem, mas… não a abandonam.

A EN-601 (Adanero-proximidades de Madrid) vai à beira da A-6 e sobe aos 1.511 metros de altitude na serra de Guadarrama, “enleando-se” em curvas e com descidas muito, muito íngremes. Os que não querem pagar portagens tomam-na, incluindo pesados.

Em França, paralela à A-63, vai a citada N-10. Aquela é uma auto-estrada sem portagem, mas há quem prefira esta.

Na EN-16, até ao cruzamento da Amoreira há obras de alargamento e melhoria. É a alternativa à A-25?

As auto-estradas são uma excelência para a rapidez. Mas são, digamos, desumanas. Implicam tesura – além de perspicácia, perícia e inteligência, claro.

Os engarrafamentos – frequentes – nas holandesas, ou a energia necessária para Bremen-Hamburgo, Hamburgo-Lubeque, ou Hamburgo-Cassel, v.g., são uma perfeita ilustração.

A despeito da inexistência de alternativa à A-25 (e já antes), a área de serviços do Alto do Freixo, com, de resto, mais que um restaurante, nunca deixou de atrair camionistas TIR que ali vêm repousar e servir-se.

Como tem cozinha permanente, que a Guarda, para mim, não tem, às vezes vou lá só para almoçar fora de horas.

Uma estrada nacional alternativa é uma bênção ao “nervosismo” das auto-estradas, donde terem uma vida que fomenta todo o tipo de actividade, desde oficinas-auto, restaurantes, venda ambulante, tipicismo… Não só aqui e na Europa mais próxima. Já o notei em 1992 na então Jugoslávia. Uma perfeita beleza!

Há quem prefira andar por aqui, por maior placidez, e, por mim, recordo que, nos princípios do passado Setembro, vim do Alto do Freixo à Guarda, com a auto-vivenda, sempre em 3ª.

O Estado que seja sério e alargue as curvas do Côa. Até assim, com tal estrada, na praia fluvial ao fundo do Castelo Bom, nesta época, é possivel ver quantidade de estrangeiros e dezenas de viaturas.

Não nos incumbe pensar em tão enriquecedora actividade na nossa terra?

Por: J. A. Alves Ambrósio

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