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Serra da Estrela é a região mais pobre da Europa

O rendimento médio por habitante nos concelhos de Fornos de Algodres, Gouveia e Seia é 100 mil euros inferior ao PIB per capita de Wolfsburgo, a região mais rica dos países fundadores da moeda única.

Apesar das suas potencialidades no turismo, a Serra da Estrela continua a somar péssimos indicadores. Aos mais baixos valores de poder de compra e de nascimentos do país, a NUT III, que também desceu um lugar no Índice Sintético de Desenvolvimento Regional, junta agora o título de região mais pobre da zona euro. É o resultado de uma análise do “Expresso” à evolução do PIB em vários pontos da Europa entre 2000, ano de lançamento da moeda única, e 2011.

Usando dados do Eurostat para o período em estudo, o semanário comparou o comportamento do PIB per capita em paridade de poderes de compra (corrigindo as diferenças de nível de preços) das diferentes regiões dos onze países fundadores do euro e da Grécia, que aderiu em 2011. A conclusão geral é que as regiões mais ricas estão cada vez mais ricas, enquanto as zonas com níveis de rendimento abaixo da média, como Portugal ou Grécia, registaram taxas de crescimento bastante baixas. No concreto, o “Expresso” verifica que a Serra da Estrela está no fundo da tabela com um PIB per capita de 8.300 euros, menos 100 mil euros que a região de Wolfsburgo (Alemanha), que gera um rendimento médio por habitante de 108.900 euros e é a mais rica do conjunto de países em análise. O jornal recorda que ali está sedeada a Wolkswagen e constata que a também alemã Ingolstadt ocupa o segundo lugar com um PIB per capita de 92.100 euros – aliás, os germânicos têm três regiões nas cinco mais ricas.

Inversamente, Portugal domina a lista das mais pobres, com sete regiões nas dez últimas. A NUT III Serra da Estrela é a última no contexto do país e na zona euro, sendo que o rendimento por habitante (8.300 euros) é de 33 por cento da média europeia. Formada pelos municípios de Fornos de Algodres, Gouveia e Seia, esta região tem uma população de 43.737 habitantes (Censos 2011) – eram 49.865 em 2001 –, predominantemente envelhecida, e com pouca indústria. Com 8.900 euros, a região do Tâmega, no distrito do Porto, é a segunda mais pobre com um PIB per capita de apenas 36 por cento da média europeia. Já o Pinhal Interior Sul, no distrito de Castelo Branco, protagonizou o quinto ritmo de crescimento mais elevado (86,2 por cento) deste indicador na zona euro entre 2000 e 2011. «Nestes 12 anos, deu um salto de 16 pontos percentuais do PIB per capita em paridade de poderes de compra face à média da União Europeia», destaca o “Expresso” na edição do passado 8 de março. Por cá, a Grande Lisboa continua a ser a região mais rica, com um rendimento médio por habitante de 32 mil euros.

Três indicadores preocupantes

Em 2011, a Serra da Estrela tinha o mais baixo índice de poder de compra (69,82) da nova Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela e o quarto menor do país. Mesmo assim, este indicador tem vindo a subir desde 1993, quando era 56,90.

Esta sub-região perdeu, em 2010, para a Cova da Beira a liderança do Índice Sintético de Desenvolvimento Regional (ISDR), apurado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Este índice pretende avaliar o desempenho das 30 sub-regiões do país nas três vertentes do desenvolvimento – competitividade, coesão e qualidade ambiental. A Cova da Beira (Belmonte, Covilhã e Fundão), Beira Interior Norte (nove concelhos do distrito da Guarda) e Serra da Estrela (Fornos de Algodres, Gouveia e Seia) têm os seus melhores registos nos índices de coesão e de qualidade ambiental, sendo que a NUT serrana volta a ocupar a primeira posição da tabela nacional na vertente ambiental e o terceiro lugar em termos de coesão. Mas, para contrabalançar este destaque, a Serra da Estrela é a sub-região do país pior classificada na competitividade.

Em termos demográficos, um estudo divulgado recentemente revelava que a Serra da Estrela e a Beira Interior Norte podem perder cerca de 30 por cento da sua população até 2040. Segundo o coordenador do projeto DEMOSPIN, os principais “culpados” são a baixa fecundidade, os fluxos migratórios negativos e o envelhecimento da população. Em novembro do ano passado, Eduardo Castro, professor da Universidade de Aveiro, adiantava a O INTERIOR que estas duas sub-regiões – que integram Fornos de Algodres, Gouveia, Seia, Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Mêda, Pinhel, Sabugal e Trancoso – estão entre as cinco situações mais graves: «As projeções apontam para que, em 2040, as piores sejam o Pinhel Interior Sul, a Serra da Estrela, a Beira Interior Norte e o Alto Trás-os-Montes, por esta ordem», declarou .

Na sua opinião, para inverter este ciclo de perda populacional são necessárias «políticas capazes de reter e atrair população jovem, seja através da criação de emprego ou de condições para que haja qualidade de vida nas regiões».

Luis Martins Apesar do turismo, o envelhecimento da população e a falta de emprego são os principais problemas da Serra da Estrela

Comentários dos nossos leitores
antonio vasco s da silva vascosil@live.com.pt
Comentário:
É fácil dar a volta por cima. Se por cada produto da região vendido houvesse o cuidado de reter algum dinheiro num fundo (Serra da Estrela), tenho a certeza que não víamos esta notícia. Certificar os produtos não chega, há que fazer investimento com a campanha que se usa do nome da Serra da Estrela. Mas o que se vê é que o dinheiro que se faz e gera riqueza desaparece nos impostos. Falta uma visão de futuro e amor ao interior.
 

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