O primeiro disco de Sérgio Godinho foi gravado aos 10 anos de idade para ser oferecido à sua mãe. «Era um 78 rotações com peças ao piano, mas perdi-o», revelou o próprio, na passada sexta-feira, durante a apresentação da sua biografia “Retrovisor”, escrita pelo jornalista e crítico musical Nuno Galopim, que não pôde estar presente.
A conversa decorreu descontraída no café-concerto do TMG, perante uma assistência maioritariamente jovem e interessada. O cantautor, que actuou no dia seguinte perante uma plateia esgotada, desfiou memórias, curiosidades e opiniões. A mais interessante diz respeito a Zeca Afonso, com quem tocou na década de 70: «É preciso continuar a descobri-lo ou redescobri-lo, porque é um músico e compositor fora de série, para além disso é super-moderno e divertido», afirmou. Quanto à música portuguesa actual, Sérgio Godinho elogiou a sua diversidade e qualidade, mas apontou um senão. «Lamentavelmente, os seus representantes não têm a devida correspondência nas rádios, algumas das quais, como a RFM, pura e simplesmente excluem os autores portugueses», criticou. E contra a «ditadura da “playlist”», o autor reclamou legislação específica que regulamente a passagem de música portuguesa nas rádios nacionais. «Só assim teremos mais espaço e também se acabará por formar os gostos», acredita. Sérgio Godinho assumiu ainda ser um músico anarquista, mas com «uma costela não anarquista», revelando, por outro lado, nunca ter gostado da designação “músico de intervenção”: «Isso não traduz nada», sustentou.
Já sobre “Retrovisor”, editado pela Assírio & Alvim, disse tratar-se de um livro sobre Sérgio Godinho, mas também sobre as pessoas que se cruzaram com ele. «Acho que é o retrato múltiplo da música portuguesa nos últimos anos», sugeriu, revelando que Zeca Afonso lhe causou um «abalo tremendo» quando tinha 18 anos. Ainda no campo das confissões, o cantautor admitiu ser «muito curioso» e permeável a todos os tipos de música.
