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Serendipity (coincidência afortunada)

Bilhete Postal

Uma fortuna é entrar num autocarro, perceber à frente uma cara mais simpática, haver um sorriso cúmplice e o solavanco colocar aquela pessoa junto de nós. Palavra puxa palavra, café convida café e dá-se um destino. A palavra nasce na língua inglesa do estudo do conto dos Príncipes do Ceilão (Serendip) numa carta de Horace Walpole em 1754. Um conceito alegre, de boas fortunas, de acasos históricos. Encontro não marcado em Berlim de cidadãos de Coimbra que se gostam. Ida a um campo de três músicos que passam a tocar juntos com sucesso. A Betty que vem de Angola e conhece o Rui, o Rui que me conhece na Faculdade, a mim que cheguei de Moçambique, e nos apresenta. Os meninos são produto serendipity. As coincidências e os factos: descolonização, amigos comuns, cidade de Coimbra onde todos aportam e acabam por se conhecer. Serendipity é também a coincidência de todos os dias, no comboio para Lisboa, à sexta-feira, irem nos lugares 44 e 45 as mesmas pessoas.

A coincidência sem fortuna é que não sei nomear. O “azar do caraças”, a “má sorte”, o “acaso triste” essas são as vezes em que encontramos quem não gostamos nos mesmos lugares que nós. No cinema: bumba o Valdemor na cadeira do lado. No autocarro: pimba “aquele de que não dizemos o nome” a tropeçar comigo. Chegar a Florença e na ponte lá está a ex-mulher e o novo marido. No vernáculo é o “ora porra!”. Coincidência também é estarem no poder uma série de dirigentes que são advogados e ex-líderes de juventudes partidárias. Também é coincidência os nomes dos dirigentes serem iguais aos dos da legislatura prévia e da de há vinte anos. Godzila e filho. Surucucu jr. e seu primo. Kong pai e filha. Coincidência é serem sempre os mesmos e Portugal sempre a descer. Serendipity ou “ora bolas”?

Por: Diogo Cabrita

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