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Segredos e Mentiras

Corta!

O segredo de Brokeback Mountain já todos por esta altura o devem saber. O filme mais premiado do ano e o mais forte candidato a vencedor dos principais prémios na noite de 5 de Março, é também o filme de que todos falam e que ninguém parece querer perder. Seja pelos prémios, ou por alguma particularidade da história, as salas lá se vão enchendo para ver a história de dois guardadores de ovelhas (sheepboys?!) que se apaixonam nas belas e isoladas montanhas que dão nome ao mais recente filme de Ang Lee, o realizador responsável por filmes como A Tempestade de Gelo, O Tigre e o Dragão ou Hulk.

Realizador versátil e incerto, saltando entre estilos bem distintos, capaz do melhor e do pior, cada filme de Ang Lee deve ser sempre recebido com algumas dúvidas. Nunca criando expectativas muito elevadas, mas não se conseguindo deixar de manter uma boa dose de esperança. Desta vez, Ang Lee assina um filme que lhe assenta que nem uma luva. Filme bonito, certinho, onde tudo parece perfeito, mas que acaba por deixar a sensação de que falta por ali qualquer coisa. Algo que nunca se consegue perceber muito bem o que seja. Uma falta transformada em sensação de insatisfação. É um filme que está quase lá. Mas que nunca lá chega. Muitas vezes perto de atingir a excelência, nunca dá o salto que lhe falta. É apenas isto?

O filme tem sido bastante comentado por mostrar uma relação homossexual entre dois homens – aqui interpretados, e bem, por Heath Ledger (uma surpresa) e Jake Gyllenhaal (igual a si próprio) – e tudo o resto que existe no filme parece não existir ou não ter qualquer importância. Mas, para além da história de amor, onde o sexo passa para segundo plano, existe também um outro lado onde a mentira é personagem bem presente. E chega a ser mesmo no campo da mentira, onde ambas as personagens vão ter que aprender a viver, pois ambas as personagens se encontram casadas e com filhos, que o filme mais pontos ganha. Os preconceitos ainda existem e são eles o principal antagonista destas personagens. Com relações familiares de conveniência, o amor só o encontram no isolamento de uma montanha.

O mais estranho num filme como este, no entanto, não faz parte do filme em si. Quando nos deparamos com uma sala cheia para ver um filme onde iremos assistir à história de amor entre dois homens, espera-se que as pessoas ali presentes para ver o filme estejam ali para isso mesmo: ver uma história de amor. Infelizmente, o preconceito também existe fora da tela, e é triste perceber que afinal, para muitos, uma história como a de Brokeback Mountain, deixa de ser uma história de amor, para se transformar numa comédia, tantos os risos que se vão ouvindo por entre o público. Espero, ainda assim, ter sido apenas azar meu na sessão por mim escolhida para ver este filme.

Será talvez o maior vencedor da noite dos Óscares, e não discordo que seja um dos mais belos filmes do ano, mas, ainda assim, volto a dizer, falta ali qualquer coisa. Não falta?

Por: Hugo Sousa

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