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Scarlett

Corta!

Enquanto Naomi Watts tarda em chegar ao patamar que merece, entretida em filmes menores como a saga The Ring – O Aviso, e Nicole Kidman vai somando pontos, tornando-se a cada novo filme a maior estrela do cinema actual, por culpa de uma Julia Roberts que tudo parece andar a fazer para cair rapidamente no esquecimento, com excepção para o muito recomendável Closer, há uma nova estrela que, a passos seguros, começa a brilhar cada vez mais intensamente. Desde os tempos de Ghost World que Scarlett Johansson anda, aqui no Corta!, debaixo de olho, e após participações em O Barbeiro, dos irmãos Cohen, A Rapariga do Brinco de Pérola, ou Lost In Translation, nunca esta jovem, de apenas vinte anos, foi uma desilusão.

Agora em dose dupla nos ecrãs nacionais, com Uma Canção de Amor e Uma Boa Companhia, Scarlett deixa de ser somente uma aposta. Nova paixão de Woody Allen, com quem colaborou em MatchPoint, quase a estrear, e já confirmada para o próximo filme do realizador nova-iorquino, Scarlett tem tudo para triunfar.

Dos dois filmes agora em cartaz que contam com a sua participação, ambos bons, o destaque, ainda assim, vai para a estreia de Shainee Gabel, com Uma Canção de Amor. Tendo como cenário uma América sulista, longe do betão que tantas vezes formata e preenche os enquadramentos de filmes americanos, Uma Canção de Amor deixa-se contaminar pela beleza, vagar e esquecimento que tais paisagens transmitem a cada novo fotograma. Com a principal personagem, que une todas as outras, ausente desde o primeiro segundo, só aos poucos vamos descobrindo os laços de união e desunião entre um ex-professor e seu pupilo, ambos alcoólicos e em fuga a um mundo exterior, vivendo numa casa, qual covil, deixada pela tal personagem ausente. O regresso da filha desta (Johansson) provocará um desequilíbrio na pacata, e auto-destrutiva, vivência de ambos.

Filme de citações, num jogo em que os próprios personagens se entretêm constantemente, são muitos os clichés por onde esta Canção vai passando, sem que, no entanto, se deixe prender num único. Vagarosamente, a conquista em nós, no final, é quase total.

Num registo bastante diferente, Uma Boa Companhia transporta-nos bem para o centro das grandes companhias empresariais actuais e suas formas de actuação, no que ao aspecto das relações humanas e de trabalho diz respeito. Todos descartáveis, todos inseguros. Mas a critica a tais corporações é apenas um pormenor, para o realizador Paul Weitz são as pessoas que verdadeiramente interessam. Os seus medos. As suas falhas, tantas vezes antecipadas antes de terem lugar. E as suas paixões, sem rede. As pessoas, sempre as pessoas, essa entidade misteriosa. Já era assim nos seus dois anteriores filmes, American Pie e About A Boy – Era Uma Vez Um Rapaz, mas nada deixava adivinhar um olhar tão sereno ao terceiro filme. Veja-se o brilhante momento de cinema, repleto de silêncios e frágeis gestos por todos reconhecidos, quando Scarlett convida o novo patrão do seu pai para o seu dormitório universitário. Só por tal momento, não existissem outros igualmente brilhantes, e já o filme valeria a pena ser visto.

Scarlett, volta sempre!

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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