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Rio Zêzere à míngua

Extracção de areia e limpeza do rio a montante são as causas apontadas pelo presidente da Junta do Dominguiso para a falta de água

Quem passa pela ponte que liga as freguesias de Dominguiso e Alcaria depara-se com um cenário desolador. O rio Zêzere está completamente seco. Um cenário verdadeiramente chocante, numa altura em que, no interior do país, estes cursos de água ainda são dos poucos locais onde se pode mergulhar quando o calor aperta.

As temperaturas elevadas deste Verão fazem com que os rios sejam os primeiros a ressentirem-se, dado que a pluviosidade também tem diminuído nos últimos anos e as nascentes já não conseguem renovar a água como antigamente. Aliado a estas condições está o facto do maior curso de água que atravessa a Cova da Beira ser um chamariz para os extractores de areia. José Minhoto, presidente da Junta de Freguesia de Dominguiso, considera que a situação a jusante tem a ver com o assoreamento nas praias fluviais e a extracção que «vai sendo feita» a montante. O autarca lamenta que o «maior rio da região» tenha poucos poços de água em todo o seu leito, acusando os areeiros de «explorar o Zêzere quando lhes apetece». José Minhoto defende, por isso, a intervenção do Ministério do Ambiente através de um controlo mais apertado destas situações, assim como da limpeza feita «por todo o lado» no rio. E dá o exemplo da zona a montante da praia fluvial de Dominguiso – que «só o é de nome» devido à falta de água, esclarece o presidente -, que está «muito» assoreada: «Se tivesse menos areia tínhamos mais água cá em baixo», acredita José Minhoto.

Ainda assim, a população desta freguesia do concelho da Covilhã não é abastecida pelo Zêzere, mas pelo rio do Peso, embora os proprietários de culturas agrícolas já tenham sido obrigados a socorrer-se de poços situados longe da aldeia. No entanto, o autarca revela que a Junta de Alcaria foi «buscar água mais acima», ao que tudo indica para abastecer os próprios moradores da localidade do concelho do Fundão. Apesar da insistência, não foi possível a “O Interior” obter qualquer comentário daquela Junta. José Minhoto insiste que este cenário desolador se deve à limpeza do rio feita a montante, porque «se há poços e nós não temos água, algo se passa», desconfia, lamentando que deixem os areeiros «fazer o que querem». Ainda assim, com ou sem água, a praia fluvial de Dominguiso nunca funcionou como tal, já que a água sempre foi considerada imprópria para banhos, segundo as análises do Ministério do Ambiente. Aquela estrutura foi construída em colaboração com a Câmara da Covilhã há vários anos, mas até José Minhoto ser eleito, a Junta «nunca» se tinha ocupado da sua exploração, sublinha. Só há quatro anos é que o actual executivo começou a dinamizar o espaço, aproveitando sobretudo as suas características de parque de merendas e lazer. O local acolheu entretanto o festival “Rock Zêzere”, espectáculos de folclore e outras actividades. «A nossa praia ficava mais bonita com água mesmo imprópria», afirma José Minhoto.

Rita Lopes

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