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Requalificação do hospital terá sido posta a concurso ontem

Em carta enviada a José Sócrates, médicos do Sousa Martins consideram «inexplicável que uma legislatura não tenha sido suficiente para arrancar, ao menos, com o concurso público»

Enquanto os dirigentes socialistas locais se atropelam em desculpas e sucessivas datas para o arranque das obras no hospital da Guarda, um grupo de médicos do Sousa Martins desafiou o primeiro-ministro a clarificar «de uma vez por todas» a situação. Mas a provocação pode ter caído, ontem, por terra. Ao que O INTERIOR pôde apurar, o Ministério da Saúde terá aberto na quarta-feira o concurso público para uma das fases da empreitada, após decisão favorável do secretário de Estado do Tesouro.

Uma medida esperada na cidade como de pão para a boca, a fazer fé na carta aberta enviada esta semana a José Sócrates. «Para as gentes da Guarda é inexplicável que uma legislatura não tenha sido suficiente para um Governo, suportado no Parlamento por uma maioria absoluta, arrancar, ao menos, com o concurso público referente a tanta promessa, feita por tanta gente», lê-se na missiva, a que O INTERIOR teve acesso. Os signatários – António Matos Godinho, Henrique Fernandes, Ilda Santos, Joana Vedes e Pissarra da Costa – não vão de modos e responsabilizam «pessoalmente» o primeiro-ministro pelas «promessas, adiamentos, jogos políticos e outras manobras que tais» à volta do assunto. A incerteza é tal que estes médicos estão preocupados com a possibilidade do novo hospital vir a ser construído por fases, o que já foi assumido pelo presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro.

Segundo O INTERIOR sabe, inicialmente estava previsto pôr a concurso apenas a construção nova. O restante, que implica a remodelação dos actuais edifícios, seria trabalho para outra fase do projecto. Se assim for, os autores da carta avisam que José Sócrates corre o risco de vir a ser recordado como «um dos mais ilusórios profetas que algum dia visitou estas paragens». Pedem, por isso, o esclarecimento cabal do processo para que «o Governo e o PS possam ser julgados com justiça nas eleições que se aproximam». O mesmo julgamento se aplicará também «a quem, no passado, associou publicamente a manutenção nos cargos políticos que ocupa ao escrupuloso e atempado cumprimento das promessas do PS sobre esta matéria». Os médicos referem-se concretamente a Maria do Carmo Borges (Governadora Civil), Joaquim Valente (presidente da Câmara) e a «alguns membros» do Conselho de Administração da ULS da Guarda, que, caso a empreitada não cumpra o calendário inicialmente anunciado, devem «sentir-se na obrigação de renunciar aos mesmos em nome da sua honra e imagem pessoais».

Desde Maio de 2007 que os guardenses anseiam por obras na cerca do antigo Sanatório Sousa Martins, recordam ainda os signatários. Na altura, o então ministro Correia de Campos anunciou a aprovação do programa funcional do novo hospital, a constituição da Unidade Local de Saúde com estatuto de EPE e sobretudo a intenção de se iniciarem «os concursos públicos, mesmo de construção, no ano seguinte». Em Outubro desse ano, Maria do Carmo Borges afirmava que «teríamos estaleiro no início de 2009». Pelo meio, Ana Jorge substituiu Correia de Campos e reiterou o compromisso do antecessor. Mas em Novembro último, aquando da apresentação e homologação do projecto de arquitectura pelo secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, ficou a saber-se que só haveria estaleiro para o segundo trimestre de 2009.

Veio depois José Albano lançar a confusão e confirmar que havia algo de errado no processo. O recém-eleito presidente da Federação socialista afirmou, na Rádio Altitude, que o projecto estava quase pronto «a ser adjudicado» e que a obra teria que ser faseada por causa dos fundos comunitários. Seguiu-se o presidente da ARS Centro para dizer que o processo está «preso para publicação do despacho de abertura do concurso» e justificar que a demora nesta fase tem a ver com «questões burocráticas relacionadas com os trâmites do concurso». Pouco depois, também no Altitude, Maria do Carmo Borges disse continuar a acreditar que será possível «termos obra no segundo semestre deste ano».

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