A campanha presidencial termina à meia-noite de sexta-feira, seguindo-se no sábado o chamado dia de reflexão.
A reflexão é um momento de paz. É sobretudo o movimento pelo qual o pensamento volta a interrogar-nos a nós próprios.
Segundo Stefan Zweig, in “José Fouché”, o tal político mau e medíocre que durante a revolução francesa jogou em todos os tabuleiros, «O génio criador precisa de refletir para perceber o horizonte da sua verdadeira missão. Os criadores das grandes religiões, Moisés, Cristo, Maomé, Buda, todos eles foram forçados a penetrar no silêncio antes de poderem fazer ouvir a palavra decisiva. A cegueira de Milton, a surdez de Beethoven, a prisão de Dostoievsky, o encarceramento de Cervantes, o exílio de Dante, a residência forçada de Lutero, o afastamento voluntário de Nietzsche, não foi senão uma secreta exigência do seu próprio génio, oposta ao desejo superficial do ser humano. Ora mesmo no mundo político, o mais baixo e o mais terrestre, a reflexão dá ao homem de Estado uma nova agudeza e conceção, um meio melhor de refletir e de calcular o jogo das forças em ação».
Refletir é neste preciso momento de extrema importância para perceber, em definitivo, onde está o trigo e onde está o joio. Nestas eleições presidenciais de 2016 a reflexão leva-nos, apenas e tão só, a duas apostas das dez conhecidas.
A primeira, toda ela feita de “faits-divers”, com folclore que baste, ida às cabeleireiras, às agencias funerárias, às farmácias, declarações sem consistência, onde as opiniões de ontem eram uma coisa, hoje o seu contrário, permitindo-me fazer valer da celebre declaração da Madrilena – «Sou da esquerda da direita» – para perceberemos, em definitivo, que existem novas embalagens de Omoprazol e que “a partir de certa idade são todas ruivas ou morenas”.
Se o Omo lava mais branco, o óleo Fula continua a fritar é mesmo necessário refletir para entendermos a percentagem de previsibilidade do candidato da direita, verdadeiro mestre da desfaçatez e do disfarce, apoiante incondicional do fatalismo numa aposta da sorte e do azar, tentando, neste pouco tempo que falta, vender produtos de um escaparate bem conhecido, utilizando a arte da retórica para cinicamente afirmar que os produtos (rançosos) são exclusivos, adicionando, para tanto, argumentos da verdade evidente num raciocínio próximo do tal Monsieur de La Palisse.
Nesta corrida contra o tempo percebe-se o medo de perder, mostrando-se agora, em final de campanha, politicamente correto, extremamente abrangente utilizando um discurso quase ecuménico, vestindo a roupagem de cordeiro, perfeitamente desmascarado pelo mais elementar meio ao nosso alcance: o algodão. Sim, o tal que não engana. Dito de outra forma, Marcelo, é como a raspadinha. Só mesmo raspando é que se sabe o que lá está. O comentador da coscuvilhice política e de múltiplos artigos de cordel insistirá em vender um mundo cor-de-rosa, pese embora continue, tal qual Orwell, a defender que guerra é paz, liberdade é escravidão e ignorância é força.
A outra, a segunda alternativa, tem a ver com o debate de ideias, com o conceito, pelo respeito que devemos às instituições, ao Estado Democrático, na defesa da Constituição, deixando de lado o encantamento do galo de Barcelos, do boneco do bailinho da Madeira, fazendo-lhes, com força e determinação, o gesto que Rafael Bordalo Pinheiro tão bem imortalizou no barro.
Está nas nossas mãos impedir que Marcelo seja eleito, pois quer queira quer não, nunca será o presidente de todos os portugueses. Terá, se for caso disso, o meu respeito, mas jamais será “o meu presidente”. Marcelo cheira, e muito, a Rebelo de Sousa. Cheira a passado, a bolor, a bafio.
Os dados estão lançados. A reflexão está feita, atribuindo inteira razão ao candidato da direita quando este diz «quem não tem nada a dizer é parvo», aconselhando nesta reta final da campanha a seguir o pensamento sensato de Sócrates: «As pessoas precisam de três coisas: Prudência no ânimo. Silêncio na língua e vergonha na cara».
Por: Albino Bárbara
* Mandatário distrital da candidatura de Sampaio da Nóvoa